De braços abertos recebi e comemorei o lançamento de quatro livros infantis da escritora e educadora Efigênia Alves, que marcam a fundação da editora Escritus no município de Jaguaribe, a 300km de Fortaleza. Este fato torna-se mais animador ainda por representar uma pulsão de vida literária presente no interior e voltada para os direitos culturais das crianças, em uma época midiático-tecnológica e de alta concentração metropolitana.

Esse feito tem o simbolismo de um roçado de produtos agroflorestais em meio à preponderância das commodities literárias. Abrir uma editora é trabalhar duro na recuperação de áreas degradadas da cultura. E os livros de Efigênia estão cheios de sumos poéticos e filosóficos voltados para a leitura do mundo, como o sentido do tempo, a relação com a natureza, a descoberta da empatia e a valorização da palavra.

Em “O tempo que o tempo tem”, ilustrado por Rafael Limaverde, a autora oferece possibilidades imaginativas para meninas e meninos transitarem pelos muitos jeitos de enxergar o quanto um minuto de espera pode ser percebido como algo demorado, assim como uma hora pode parecer pouco tempo quando se está brincando.

Outro livro de Efigênia Alves, “Nove Pedidos”, com ilustração de Waleska Félix, relata as peripécias de uma menina perguntadeira, chamada Flor, em seu aniversário de nove anos. Com pano de fundo inspirado no ditado popular “Para colher perfume é preciso plantar flores”, esse episódio envolve notas de um diário e a amorosidade familiar no processo de realização de desejos.

A fábula “Cada um é o que é”, ilustrada por Eduardo Azevedo, mostra que a chave para a boa convivência e para a amizade depende da maneira como vemos e somos vistos. A situação é de bullying e de reversão de hábitos mentais de discriminação no meio da bicharada. A autora coloca o tema com delicadeza e compreensão da natureza humana.

Efigênia brinda ainda as leitoras e os leitores com “A menina que descobriu o mistério das palavras”, ilustrado por Daniel Dias. Brincar com vocábulos é o que gosta de fazer a protagonista em sua descoberta de que as palavras estão ficando cada vez mais atrevidas, a ponto de umas se esconderem dentro das outras, como se fosse pouco a ilusão causada por aquelas menores que tratam de coisas grandes, como ‘boi’, e as grandes, como ‘formiguinha’, que significam coisas pequenas.

Está, portanto, dada a partida na intervenção literária que a Escritus, coordenada por Ricardo Freitas de Lima, passa a fazer a partir da terra do queijo coalho e da renda de filé. Ao calor intenso do semiárido cearense e banhada pelo rio que lhe deu o nome, Jaguaribe tem mais um motivo para se orgulhar: a editora do casal Ricardo e Efigênia.

SERVIÇO:
www.escritus.net.br
atendimento@escritus.net.br

Fonte: RiVista do Mino nº 249