Jornal O POVO, Coluna Vertical S/A – Fortaleza, 15/07/2002

Por Jocélio Leal

O GUIA DE PRAIAS DO CEARÁ 
O desafio era ousado. Produzir um guia que era capaz de servir como orientador para completos desinformados sobre o litoral cearense. Noutras palavras, um autêntico navegador silencioso. O ano era 1997. A missão foi cumprida e repetida em 1999. Em ambas as edições, o Guia de Praias do Ceará (Edições Demócrito Rocha, R$ 15) causou boa impressão. Demarcando cada referência dos diversos caminhos que levam à Costa, conseguiu superar de longe todas as publicações já produzidas na área. Agora, na terceira edição, que acaba de chegar às bancas e livrarias de Fortaleza, o Guia assinado pelos jornalistas Flávio Paiva e Miguel Macedo agregou mais conteúdo. Nessa nova edição, uma decisão editorial deu mais agilidade. O texto descritivo foi separado das opiniões. Entraram também referências culturais de cada praia. Sobre Paracuru, por exemplo, entra o compositor cearense Fausto Nilo, que não é de lá, mas cita a praia em música composta com o baiano Armandinho. Em Itapipoca citam a banda Dona Zefinha. Todas as informações foram atualizadas em duas semanas de deslocamentos pelos 573 km de litoral. Distância percorrida em carro tracionado seguidas vezes, num total de 2.600 km , pois todos os percursos apresentados foram feitos tomando a Estátua de Iracema, na Beira Mar, como marco zero.

OCUPAÇÃO A QUALQUER CUSTO 
Há algo que só a nova edição do Guia de Praias do Ceará traz. Está presente nos textos autorais, onde Flávio e Miguel concentraram suas impressões pessoais. Diz respeito a uma característica dos processos de desenvolvimento turístico sem sustentabilidade. Nessa terceira série de viagens pelas praias, os autores puderam comparar o que viram com o que já conheciam e constaram, como nunca, a degradação ambiental. Exemplos os mais diversos: uma duna loteada na Praia do Iguape, com direito até a arruamento;na bela Praia da Lagoinha, numa área chamada Praia do Porto, parte do terreno de marinha já dividido em lotes pertencentes a empresários e celebridades; próximo à Praia da Baleia, casos de ocupação irregular, entre outros. Casos que possuem em comum o mesmo efeito: a comunidade local perdendo o direito ao acesso ao mar, principal fonte de renda para muitos. Miguel Macedo atribui o aumento da incidência das irregularidades à valorização que novos investimentos turísticos têm dado às praias. “A geografia é outra. Antes a briga era de peixe miúdo, com o advento dos novos investimentos, logo que ficam sabendo do interesse dos investidores correm e ocupam”, denuncia Macedo. Um dado obscuro que se esconde atrás das belezas cearenses.