Jornal O POVO, Editorial, Fortaleza, 16/07/1999
Os lançamentos hoje pela Fundação Demócrito Rocha do curso Turismo: Educação e Cidadania, que terá fascículos encartados todas as quintas-feiras no O POVO; da nova edição do “Guia de Praias do Ceará”, dos jornalistas Flávio Paiva e Miguel Macedo, além da Cartilha “Embarque Nessa”, um manual do professor com os subtítulos ‘Turismo: Patrimônio e Cidadania/Projeto de Iniciação para o Turismo’ (Embratur), podem ser considerados contribuições a mais para se desenvolver a consciência turística tanto no âmbito estadual quanto em termos nacionais.
Ao contrário de anos atrás, quando os pessimistas subestimaram as potencialidades do Estado e até do País, com relação aos que fazem temporadas em outras terras por motivos de lazer e/ou cultura, o turismo se qualifica cada vez mais no binômio infra-estrutura e profissionalização, para receber melhor esses viajantes. Para isso, são fundamentais em nível local os cursos de turismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) e o Cefet. Já vai longe a época em que, quando se conduzia visitantes entre a capital cearense e a gruta de Ubajara, se chegava a estocar embalagens aluminizadas com alimentos nos bagageiros dos ônibus da excursão, tendo os passageiros de optar, horas depois, entre consumir ou não comida fermentada. Eram, afinal, tempos de amadorismo e precipitação que, tudo indica, já se acabaram.
Um dos aspectos inegáveis é as duas edições da Fundação Demócrito Rocha investiram nas possibilidades do Ceará como destino de viajantes, mesmo que o Estado enfrente, a exemplo de atualmente, instabilidades climáticas decorrentes da seca. Isso, aliás, de maneira alguma deveria ser argumento desestimulador. Quatro países do Oriente Médio, Líbano, Israel, Egito e Marrocos, contam com regiões desérticas e, ainda assim, atraem viajantes, embora por outros motivos. E, ao contrário do Ceará, viveram ou vivem sob tensão política constante e o perigo de atentados por parte de grupos extremistas.
Outro ponto a se destacar no turismo é que se tornou atividade tão politicamente ecumênica que transcende ideologias. Por exemplo, na década de 60, a Espanha, ainda sob o governo do generalíssimo Francisco Franco, uma derivação sobrevivente do nazi-fascismo, incentivou tanto produtores de cinema estrangeiros a rodar filmes em locações hispânicas quanto estimulou a visita de turistas. Era a época também de um surto de industrialização que acabou sendo reconhecido no estrangeiro como o milagre espanhol. As três atividades que intensificaram o intercâmbio e contatos entre nacionais e visitantes, acabaram contribuindo, direta e/ou indiretamente, para a reabertura democrática na Espanha, ocorrida depois que o rei Juan Carlos sucedeu Franco. A Rússia, igualmente, chegou a atrair muitos visitantes ocidentais sob o regime da União Soviética, apesar de toda a vigilância policial da época, assim como a República Popular da China sob as manifestações xenófobas da Revolução Cultural.
É fato ainda que o turismo vem sendo tratado no Ceará como prioridade, independente de partido que esteja no poder. Inclusive nas campanhas eleitorais, todos os candidatos manifestarem o consenso de que a atividade deve ser aprimorada, embora com visão diferente da chamada “indústria sem chaminé”, entre cada um, dentro do princípio de que é um setor decisivo para o Estado.
Neste contexto, o fundamental é que as publicações a se lançar hoje efeito de vinde ao Ceará, nem só na alta estação como também nos meses intermediários e que todos os visitantes sejam bem-recebidos. Esse é um esforço em que toda a infra-estrutura vinculada ao setor deve participar, como uma necessidade imprescindível, num Estado que sempre ofereceu ao visitante o seu melhor know-how na área, a hospitalidade.