Durante o ano de 2024, na condição de torcedor do Ceará, acompanhei jogos do Mais Querido na Arena Castelão e fui constantemente surpreendido com um fenômeno de escala na conexão do tamanho do estádio e da torcida do Vozão com o jogador Erick Pulga. 

Encerrada a temporada, com o Ceará campeão estadual e conquistando mais uma vez o retorno ao seu lugar na Série A do Brasileirão de futebol, a figura de Erick Pulga, artilheiro da competição de acesso, saltou aos meus olhos não apenas como referência de talento no clube, mas como um personagem de bandeirão.

Erick da Costa Farias (24) nasceu na capital do Ceará, tem corpo franzino, com 1,69 metro de altura e 70 quilos, cara de moleque peladeiro, jeito matuto de andar, e atua em campo como o torcedor alvinegro de arquibancada que é, tornando-se do tamanho do estádio com seu estilo original de jogar.

A cada partida, essa grandeza do incansável ponta esquerda invertido, camisa 16 do Time do Povo, foi ganhando novas dimensões com seus dribles abusados, velocidade impressionante, jogadas habilidosas, troca inesperada de direção e capacidade de finalizar com precisão.

O conceito de escala tem como ponto de partida a relação existente entre elementos perceptíveis e suas representações. O que se vê como grande ou pequeno passa consequentemente por muitas perspectivas físicas, literais, projetivas e imaginárias, associadas ao sistema sensorial de quem observa.

O caso de Erick Pulga explica bem esse deslocamento de parâmetro de grandiosidade a que se elevou o craque da Maior do Nordeste. O apelido ‘pulga’ não poderia ser mais adequado a esse ser fabuloso e resistente, que não tem asas, mas pula e voa muitas e muitas vezes mais alto do que seu próprio tamanho. 

Erick Pulga do tamanho da arena Castelão. Foto: Aurélio Alves/OPOVO (2024).

É com destreza incomum que ele desconcerta e desequilibra os adversários, bailando em campo com giros corporais dançantes e em marcha rápida, como um dançarino de xote. Erick Pulga faz futebol-arte espontâneo, como um artista popular envolvente, a sacudir o Ceará em ritmo sincopado e vibrante.

Por outro lado, o jogador alvinegro demonstra sua imensidão sendo uma pessoa comum, identificada com a multidão de torcedoras e torcedores que enche o estádio. A realidade de seus momentos espetaculares no gramado do Castelão expande-se de igual modo pelas transmissões ao público que o admira nos telões dos bares e restaurantes e nos monitores de casa.

Com essa estatura tornada incomensurável pela capacidade de atrair admiradores de todas as idades, cores e gêneros, o pequeno Erick Pulga simboliza a essência da paixão que move o futebol intuitivo, decisivo e com faro de gol.

A celebração de seus gols reforça a simplicidade de alguém que conquistou o brilho das estrelas, mas mantém-se leal às origens de sua luz. Como uma pulga de bateria solar carregada no território da cearensidade, ele salta em rodopio, gesticula os braços rumo ao céu e, com as mãos abertas, agradece a Deus, a torcida e aos companheiros que dão vida ao time.

Essa qualidade inata de ser pequeno e grande ao mesmo tempo aproxima Erick Pulga de suas fãs e de seus fãs, que beijam a chuteira da emoção nascida do imprevisível das jogadas e do jeito de ser que o levou aos afetos do coração da torcida. Com ele em campo, a partida começa com o pressentimento de vitória e termina em conquista. Grande Erick Pulga!

Fonte
Jornal O POVO