RIvista – A revista do Mino – Edição nº 5 – Dezembro de 2000

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Por Tânia Bacelar de Araújo – economista, socióloga e doutorada em Economia Pública pela Universidade de Paris

No livro “Os 5 Elementos”, Flávio Paiva e João de Paula Monteiro identificam e revelam a essência nutridora do Pacto de Cooperação do Ceará.

O povo cearense sempre apresenta iniciativas interessantes e soluções inovadoras para questões desafiantes. “O Pacto de Cooperação do Ceará” é uma delas.

cincoelementos_rivistafiguraPelo que explicam, no presente livro, seus autores, num mundo onde a palavra de ordem é COMPETIÇÃO, o PACTO vai na contramão e propõe vivenciar a COOPERAÇÃO. Numa sociedade como a brasileira, marcada por profundas desigualdades sociais, o PACTO busca aproximar pessoas. E ao invés de aprofundar divergências, tenta criar espaço para que cidadãos de diversas visões de mundo e com inserção distinta na vida social possam descobrir as possibilidades de construir CONVERGÊNCIAS.

Enquanto o individualismo tenta se firmar como postura dominante, mundo afora, os que aderiram ao PACTO tentam colocar suas energias na descoberta de CAUSAS COMUNS em torno das quais possam se unir e se mobilizar. Tentam estabelecer objetivos que possam PARTILHAR.

Uma premissa explicitada pelos que aqui apresentam esta instigante experiência parece ser a base desse já longo período de ecistência (nove anos) do PACTO: o respeito pelo outro, por suas opiniões, sugestões e iniciativas. Uma boa seiva.

O livro revela, corajosamente, algumas insuficiências da experiência que analisa. Talvez a mais importante delas, pelos propósitos mesmo do PACTO é a modesta participação de trabalhadores. Sem eles, corre-se sempre o risco de construir um pacto de elites – muito usual no Brasil – só que com outra forma de atuar. Entendem João de Paula e Flávio Paiva que a origem provável dessa dificuldade é seu “pecado capital”: o PACTO nasceu de uma tentativa de interação mais evidente entre representantes do Governo e do empresariado local, tanto que chega a ser visto apenas como “Pacto de Cooperação Governo/Iniciativa Privada”. Os representantes da “sociedade civil” vêm depois.

Mas o livro atrai o leitor por outra novidade: o que está sendo chamado de GESTÃO COMPARTILHADA. Ao invés de gerenciar interesses, projetos ou iniciativas específicas, o PACTO se propõe atuar na gestão do que é comum, ou seja, no espaço das “TANGÊNCIAS”, como chamam João de Paula e Flávio Paiva. E isso é um foco nada usual. Há aí o que aprender com a experiência cearense.

Por fim, destaco que, num país herdeiro e praticante de uma cultura política onde se destacam o patriarcalismo, o autoritarismo, e o clientelismo e onde a promiscuidade impõe a hegemonia do interesse privado nos espaços públicos, o livro aponta para uma tentativa de criar outros padrões de comportamento.

Por isso ao terminar a leitura somos levados a desejar: tomara que o PACTO se amplie e se consolide, contribuindo para firmar um novo padrão de relação entre os governos, os representantes do setor privado e os representantes da sociedade civil, no Ceará. Que ajude a desprivatizar a esfera pública.

Há outras tentativas em curso no país. A base do êxito em todas elas é a construção da consciência cidadã. É desta que emergirá um novo padrão de atuação na esfera pública no Brasil.