Diário do Nordeste, Caderno 3, 30/06/2001
Laécio Ricardo
da Editoria do Caderno 3
O artigo é o texto jornalístico que melhor contempla o ato da reflexão, por conceder ao seu autor a liberdade necessária para opinar sobre um tema determinado. Como artífice da escrita há 15 anos, Flávio Paiva se tornou um dos mais populares e constantes articulistas da imprensa cearense.
Tanto tempo destinado à produção de textos que primam pela ponderação e o discernimento só poderia resultar no acúmulo de um farto material para futuras edições. De olho neste acervo, Flávio Paiva acaba de lançar “Como Braços de Equilibristas – O Livro dos Artigos” (Edições UFC). Como o jornalista prefere descrever, “a obra surgiu do desejo de reunir, num único volume, diversos fragmentos de olhares, de forma a poder compartilhar, de forma sistematizada e com um público maior, tantas considerações”.
Segundo o autor, é difícil especificar uma temática dominante nos artigos coletados no livro – 90 no total, publicados na imprensa cearense entre 1987 e 2001. O critério básico de seleção dos textos, acrescenta Paiva, é a atemporalidade das idéias neles contidas – sua permanência e atualidade – e não o impacto dos fatos que suscitaram a discussão.
“O fato é apenas a matéria-prima da interpretação; o trabalho em si é a reflexão, o objetivo é comunicar. Se houver uma necessidade de sintetiza o conteúdo dos artigos, eu diria que cultura e comportamento, em seu sentido lato, são temáticas centrais. O meu desejo maior é contribuir para nos libertar deste pensamento colonial que muitas vezes insistimos em carregar”, complementa.
As ponderações de Flávio parecem ter cativado um público mais amplo que o universo de leitores cearenses. “Paiva chama esta coletânea de o livro dos artigos, mas bem que poderia ser de crônicas. A crônica é um gênero literário que trata de marcar o tempo, a época em que se vive, com reflexões sobre os acontecimentos, procurando discernir na fugacidade do cotidiano o que é permanente e fundamental. É isto o que o autor faz, com paixão e pertinácia”, escreve Paul Singer, economista e professor da USP, no prefácio da obra.
Sabiamente, Paiva também apresenta na coletânea o recall dos leitores em dois capítulos que, segundo ele, têm um sentido de progresso – asseguram a continuidade das idéias levantadas nos textos, são um prolongamento dos debates travados nas páginas dos jornais. Para compor os capítulos, o autor reuniu 60 cartas de leitores, dispostos em ordem alfabética, de forma a garantir um tratamento idêntico a todos os interlocutores, ilustres ou não.
Com tiragem inicial de mil exemplares e todo impresso em papel reciclado, o livro será lançado neste sábado, de 10h às 17h, no Mini Museu Firmeza (Mondubim Velho), no sítio do casal de artistas plásticos Nice e Estrigas. Quanto ao horário prolongado para o lançamento, Flávio é enfático: “Não há uma hora exata para se chegar, mas um tempo. A idéia é estimular o diálogo, provocar discussões, o que tem tudo a ver com a tônica dos artigos. E nenhum lugar é melhor para refletir do que o sítio de Estrigas”, confidencia.