O Povo – coluna Vertical S/A, 22/02/2010

Jocélio Leal 

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Em terceira pessoa: Desde menino, José Dias Macêdo gosta de vender. Sempre apreciou estar perto das pessoas interessadas em comprar algo. Ainda guri, já era curioso por saber o que faz com que elas se interessem por um determinado produto. Quando descobria o que despertava o interesse das pessoas, o pequeno José, mesmo que não tivesse, dava um jeito de conseguir e atender vontade do freguês (em marketês, atendia desejos e necessidades do consumidor). Conta que ficava alegre quando as pessoas buscavam nele uma forma de chegar ao que queriam. Como todo vendedor, José tinha como objetivo maior o lucro, e não há nada de feio nisso. Mas, para quem como ele era vocacionado para o ramo, a satisfação de quem vende e de quem compra era mesmo impagável. 

Em primeira pessoa: Eu comecei minha vida empresarial em setembro e 1939, precisamente. Quero citar essa data, como sendo meu início, porque foi quando eu recebi uma carta de eu cunhado Carlindo Cruz, me admitindo como sócio interessado na firma dele, com uma participação de capital. Vender Jeep foi uma aventura. Viajei para os Estados Unidos sem falar inglês, sem dinheiro nem patrimônio para enfrentar aquilo. Não tínhamos experiência nenhuma. Se fosse exigido abrir carta de crédito eu não tinha lastro para isso. Quando mais tarde um inspetor da fábrica (Willys) veio a Fortaleza, o máximo que eu tinha conseguido fazer era um galpão para a montagem dos veículos. Vinha tudo desmontado em caixotes de madeira. Mas consegui convencê-lo de que embora modesta, a firma podia dar conta do desafio. Deu certo. 

Terceira pessoa & A importação de Jeep foi o primeiro grande negócio de J. Macêdo. Graças aos carros rústicos da 2ª Grande Guerra conseguiu ganhar o primeiro milhão de dólares. Dali veio o fôlego para entrar de cabeça numa novidade por aqui: o trigo. Até então, o moinho mais próximo do mercado cearense ficava em Pernambuco. Era o da Bunge, em Recife. 

Primeira pessoa: No começo, eu admiti na empresa, praticamente, todos os meus irmãos como sócios. Os dois mais novos, Benedito e Fernando, como os principais sócios depois do fundador. Benedito foi um grande sócio que eu tive. Era um homem de uma cabeça muito boa e me ajudou muitíssimo. Na parte do moinho de trigo, por exemplo, ele teve uma participação muito grande. Foi um herói na compra e do traslado para Fortaleza do moinho Itália (Moinho Stucky, em Veneza). A gente ia se completando. 

Terceira pessoa: José Macêdo prova que a preocupação social da empresa é anterior à propagação do termo responsabilidade social. Em 1959, criou a fundação Antônio Dias Macêdo. A Fundação passou a ter escolas, com cerca de duas mil crianças. Quando o País anunciou a criação do 13º Salário (1962), J. Macêdo já pagava dois anos antes. O sucesso empresarial do grupo vem de uma receita básica, válida para micro, pequenos, médios, grandes e gigantes: manter o equilíbrio. Ele diz que sempre procuraram gastar pouco, sempre poupando. Segundo ele, mesmo depois de capitalizados, continuaram levando vida de classe média com recursos. Nunca tiveram preocupação de comprar iate, por exemplo. Até hoje, José Macêdo afirma ter como principal hobby trabalhar. É a coisa que ele mais gosta. 

As histórias de José Macêdo, que acabam se confundindo com as do Grupo que leva seu nome, estão bem contadas em primeira e terceira pessoas na biografia “Parece que foi amanhã & as ideias que levaram ao futuro o empresário, patriarca e cidadão José Macêdo“, OMNI Editora, 144 páginas. O lançamento é hoje, às 19 horas, na Livraria Saraiva, no Shopping Iguatemi. A apresentação será feita pelo filho dele, Roberto Macêdo.