Diário do Nordeste, Música – 11/03/2008

Henrique Nunes – Repórter

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Três cearenses, o jornalista e escritor Flávio Paiva, a cantora Olga Ribeiro e o poeta Floriano Martins, marcam presença na gravadora Lua Music 

Muita gente ainda se esforça para difundir sua música através do suporte do CD, embora muitos outros músicos já prefiram mostrar suas criações no universo, ainda paralelo, da linguagem estritamente digital. Para os primeiros, chegar a gravar um disco é algo tão importante quanto materializá-lo, palpavelmente, enquanto um produto de todo o seu esforço criativo. Claro, enquanto produto no sentido de mercadoria também. Feitos todos os ajustes, entra a etapa da distribuição, a última antes da loteria das lojas de discos e de departamentos onde finalmente o CD estará à venda. 

Nesse sentido, as gravadoras, em geral ainda sediadas entre Rio e São Paulo, também acabam atraindo muitos artistas devido à sua bagagem no território da distribuição. Entre elas está a paulista Lua Music, cujo catálogo consta, atualmente, com mais três cearenses, o jornalista e escritor Flávio Paiva, a cantora Olga Ribeiro e o poeta Floriano Martins, por muitos anos radicado em São Paulo e há alguns já de volta à cidade. Lua desbravada, entre os cearenses, por um mais conhecido nas plagas paulistanas: Zé Guilherme, cantor e compositor com dois discos já lançados pela gravadora. 

Flávio e Olga estão relançando o encamento raro de “Bamba-La-Lão – cantigas infantis de Flávio Paiva por Olga Ribeiro”, de 2001. É o segundo álbum infantil de Flávio – o primeiro, “Samba-le-lê”, de 99. Floriano apresenta seu primeiro produto no formato: “Brincos do Mar e o Infinito…”, poemas em parceria com o cantor e compositor Mário Montaut, interpretados por ele e pela cantora Ana Lee.

Elegias à vida 
Na visão de Flávio Paiva, escritor, compositor, produtor cultural e jornalista – articulista do Diário do Nordeste às quintas-feiras – “não há nada de especial” no contrato. “Também não criei qualquer expectativa referente a mercado. Todo o meu trabalho com discos e livros vale mais para mim como manifestações da minha vida comunitária. Sinto-me retribuindo por meio da música e da literatura, tudo o que de sublime tenho recebido na vida nos ambientes por onde transito; por outro lado, ao fazer isso, faço com a satisfação de quem tem a impressão de que está dando algum tipo de contribuição aos meus filhos, à infância e à nossa cultura”. 

Já Floriano Martins conta que as parcerias com Mário Montaut são fruto de “uma intensa afinação” que se deu desde que se conheceram, quando o escritor cearense planejava a montagem de um texto para teatro, e convidouo Mário para compor a trilha. “Começamos pelas canções e de repente nos pusemos a compor tão copiosamente que logo pensamos em um disco”. A eles se juntou a cantora e compositora Ana Lee. “O disco reflete este ambiente de descoberta, de assimilação e afirmação de três vozes que sabem integrar-se a partir de um sentido extremo de entrega”. Que a terrinha receba bem nossos adoráveis lunáticos.

CD “Bamba-La-Lão” 
Flávio Paiva e Olga Ribeiro 
11 faixas 
R$ 21 
Lua Music 2001

CD “Brincos do Mar e o Infinito…” 
Mário Montaut e Floriano Martins 
17 faixas 
R$ 15 
Lua Music
2007

Por e-mail: íntegra da entrevista de Flávio Paiva a Henrique Nunes

Diário do Nordeste – Nesse contexto de tanta virtualização, qual a importância de um artista em ainda buscar uma boa distribuição por uma gravadora nacional?

Flávio Paiva – As evoluções nem sempre acontecem para acabar com o que existe, para trocar o que existe pelo que vai chegar. Muitas vezes o ato de evoluir é um criador de oportunidades, de possibilidades, de novos horizontes. Vejo o fenômeno da virtualização como uma circunstância excepcional da inventividade humana, a multiplicar nossos sensores, nossos parâmetros de convivência, de senso comunitário, de universalidade, enfim, nossas balizas culturais e existenciais. Nesse sentido, a distribuição nacional desafia a compreensão do que é a regra e o que é a exceção na pós- modernidade. Não acredito que o calor tátil esteja desaparecendo das nossas sensações. Os suportes físicos e virtuais têm os seus aficionados, na grandeza da nossa multiplicidade. Que o digam os DJs quando tocam a superfície dos velhos elepês, como quem pilota a mais futurista das viagens sonoras.

Diário do Nordeste – Qual a perspectiva em fazer novos trabalhos infantis, com esta qualidade, sem essa distribuição?

Flávio Paiva – Ter sido procurado pela Lua Music foi uma novidade boa. A Lua é uma gravadora criteriosa, que tem lançado trabalhos de diferentes gêneros, estilos e ritmos da Música Plural Brasileira, que vão de Maurício Pereira a Rebeca Matta, passando pelo nosso conterrâneo Zé Guilherme, lá do Cariri, pela música infantil de Madan cantando José Paulo Paes e por clássicos da MPB, como Dolores Duran e Alaíde Costa. É, portanto, uma grande satisfação fazer parte desse catálogo, oportunidade que agradeço ao músico e produtor cultural baiano Moisés Santana. Quanto ao vínculo do que produzo, com a questão da distribuição, tenho feito na verdade a combinação de literatura e música em livros/cds lançados e distribuídos nacionalmente pela Cortez Editora, de São Paulo, a exemplo do “Flor de Maravilha”, “Benedito Bacurau” e “A Festa do Saci”. Estou muito satisfeito com esse caminho e com o alcance desses trabalhos. A distribuição do Bamba-la-lão pela Lua é muito bem-vinda, pois leva aos canais de venda não ocupados pelo livro, essa traquinagem musical, que fiz com a minha amiga Olga Ribeiro, com uma turma de músicos de primeira linha, dirigidos pelo querido Tarcísio Sardinha, e que conta com ilustrações em bordados da mais que amada Nice Firmeza.

Diário do Nordeste – Quais foram as bases do contrato com a gravadora? Qual a sua expectativa?

Flávio Paiva – Não há nada de especial no nosso contrato. Também não criei qualquer expectativa referente a mercado. Com a Lua Music, assim como a Cortez Editora, a minha relação é profissional, embora todo o meu trabalho com discos e livros valham mais para mim como manifestações da minha vida comunitária. Por um lado, sinto-me retribuindo por meio da música e da literatura, tudo o que de sublime tenho recebido na vida nos ambiente por onde transito; por outro lado, ao fazer isso, faço com a satisfação de quem tem a impressão de que está dando algum tipo de contribuição aos meus filhos, à infância e à nossa cultura.

Diário do Nordeste – Teus próximos projetos (inclusive literários) continuarão tendo esse tipo de distribuição?

Flávio Paiva – No caso dos meus livros infantis editados pela Cortez Editora, tenho tido a grata surpresa da adoção de todos os títulos em escolas públicas e privadas. Isso sem contar com as encomendas de compras, como foi o caso recente da Prefeitura de São Paulo, que adquiriu uma edição especial do “Flor de Maravilha” para a rede pública de ensino municipal da capital paulista. Da distribuição do CD “Bamba-ba-lão” pela Lua Music ainda não tenho notícias de como anda a venda em lojas e pela Internet. A venda de livros e de CDs pela rede virtual tem aumentado bastante e percebo nesse sistema com o grande aliado que ele é na circulação de produtos culturais.