O POVO – People – Fortaleza, 24 de agosto de 1997
Flávio Paiva e Anna Torres
Foto por GENTIL BARREIRA
Letras em câmbio. Foi reunindo fonemas, sons, notícias, poesias e músicas em cantos que Flávio Paiva mostrou definitivamente que não teme as palavras, seus efeitos ou consequências. O verdadeiro temor do jornalista, escritor e compositor cearense é o medo de que as pessoas percam a liberdade de ir e vir, de falar e ouvir. Apavoradas com a violência, trancam-se caladas em casa e deixam a vida passar lá fora, sem perceberem a urbanidade vital e crescente que pode também enriquecê-las.
Flávio celebra essa perturbadora e presente urbanidade com elementos que festejam a criação, alardeando a necessidade do Ceará em atentar para uma musicalidade múltipla e multifacetada que, hoje, o Brasil já confere. Ele batiza de Música Plural Brasileira a descentralização musical que o brasileiro pode promover, congregando em torno das sonoridades a independência de rótulos ou de imposições da máfia fonográfica.
Para Flávio,”estamos no melhor estágio que já vivemos na nossa música”, e para confirmar sua previsão aguardem a próxima atração do Projeto BEC Seis e Meia. Paiva lançará com um show às 18h30min do dia 29 próximo, na Praça Mestre Pedro Boca Rica, do Teatro José de Alencar, seu novo CD Terra do Nunca. As letras de sua autoria ganham alcance maior na voz da maranhense Anna Torres e nos arranjos especialmente criados pelo músico paulista Paulo Lepetit, um ás do contrabaixo.
Depois de ter mostrado a criatividade infantil no CD Rolimã ao lado de cantantes e amigos, em seu segundo CD Flávio recheia sua poesia com preocupadas revelações e com a insuspeita satisfação de querer crescer junto com Fortaleza, a cidade em que mora desde 1976. Seu ouvido domesticado ao som de cordelistas, cantadores e emboladores não furtou-se ao rock’n roll de pesos-pesados como os Beatles, Suzi Quatro e Led Zeppelin, nem deixou de também atentar para o novo que valesse um som a mais.
Antena ligada e faro fino, Flávio sabe que pode mostrar um novo caminho, cujo passaporte já pode estar no seu autoral Terra do Nunca.