DIÁRIO DO NORDESTE. 26/03/1996

Canta, Nordeste! O imperativo intrínseco no nome do festival parece ainda não ter dado os frutos que antes fizeram a fama dos grandes festivais: revelar nomes de âmbito nacional. Mas prossegue anualmente como um grande encontro de músicos da região que, mais do que competir, vão mesmo para fazer intercâmbio, trocar informações e contatos. Acaba de chegar às lojas o Cd que registra as participações dos 12 finalistas da quinta edição do “Canta Nordeste” (Som Livre), cujo destaque para os cearenses foi o prêmio de melhor intérprete para Ricardo Black, que defendeu “Latitude”, parceria de Flávio Paiva e Tato Ficher.

Outro destaque cearense foi a participação do pastor Allison Silva que defendeu sua “Filhos de Ninguém”. Até então, Allison era um completo desconhecido nos meios musicais, apesar de já ter um nome sólido entre os evangélicos. O registro das participações deixa muito a desejar. As gravações foram feitas ao vivo durante a semifinal em São Luiz (MA) e a finalíssima em Natal (RN). O fato empastelou faixas que mereciam um melhor tratamento. Músicas que só uma gravação de estúdio poderia dar uma real dimensão da composição, como por exemplo “Meio Tom” , com o grupo Ensaio Vocal, representante do Piauí.

Além disso, a mixagem final achatou os instrumentos e as vozes dos concorrentes ficou em primeiro plano além do normal. A produção final também pecou pela falta de cuidado. Alguns créditos foram omitidos – como o nome do paulista Tato Ficher na parceria de Flávio Paiva – ou saíram errados – o nome da cantora baiana é Vânia Bárbara e não Vânia Barbosa. Aliás, Vânia foi uma das boas coisas do festival e era concorrente séria na categoria intérprete vencida pelo cearense. Com um estilo vocal que lembra Daniela Mercury, ela se garantiu na interpretação de “Só não deixei de sambar”.

Reclamar do resultado final do festival chega a ser chover no molhado. Qual festival que não teve sua premiação questionada por crítica e público? Às vezes até pelos próprios jurados (!!). Mas que tinha coisa melhor que “Meninos do Sertão” (1º lugar), “Saudade D’Ocê” (2º lugar) e “Homem Bicho (3º lugar). Até o clima alto astral do maranhense Mano Borges em “Bangladesh”, classificada em última, merece mais destaque. Se você acompanhou o Canta Nordeste ano passado, ou não, o disco está nas lojas para cada um tirar suas próprias conclusões e escolher suas preferidas.