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América
Agosto, 1992 – Parque do Cocó – 
Fortaleza-Ce, Brasil.


Pausas

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500 anos depois
Por Ciro Gomes

Navegam até nossos dias os sons das quilhas colombianas a romper as profundezas abissais dos mares rumo ao desconhecido, numa aventura marcada por toda sorte de perigos e peripécias, até o grito de “terra à vista” naquele 12 de outubro de 1492.

Cinco séculos depois, o mundo ainda polemiza acerca do grande feito do navegador genovês, suas ambições, seus méritos, suas desditas.

Haveria nele mais que intuição e sorte ao drapejar a bujarrona da “Santa Maria” ao sopro incerto dos ventos mediterrâneos e seguir, no negrume impenetrável da noite oceânica, a orientação do cintilar intimista das estrelas?

A discussão chega ao destempo. O que conta é o resultado daquela audaciosa aventura marinha que divisou na madrugada antilhana o primeiro horizonte do Novo Mundo, San Salvador, nas Bahamas, a que Colombo chamou de Guanaani.

Sucederam-se outros viajores, entre eles Américo Vespúcio, de cujo nome seria indevidamente batizada terra que Colombo revelara.

Chegaram espanhóis e portugueses, saxões e franceses, também os batavos e tantas outras gentes, com espírito aventuroso de pioneiros, a valentia ambiciosa de conquistadores, alguns apenas para saquear, outros para ficar em definitivo e construir aqui seu novo lar, o mundo americano pelo qual optaram.

Um dia, nos porões dos navios, vieram os negros para os canaviais do Brasil e de Cuba, os algodoais da Louisiana, para as minas do Peru e do México, escravizados pelos que precisavam de mais braços para entrar na posse das múltiplas riquezas desse imenso território onde floreciam civilizações nativas de grande esplendor.

Astecas, Maias e Incas e povos mais primitivos como se os Tupis-Guaranis do espaço geográfico brasileiro, foram sendo esmagados e absorvidos pelo invasor mais forte. Dessa misturação de raças e culturas, forjou-se a América, falando espanhol, português, inglês, francês, em meio a tantos dialetos a sinalizar as origens de cada uma das muitas nações que compunham todas as áreas pré-colombianas.

Esta América que está na poesia libertária de Castro Alves, de Neruda, de Walt Whitman, ou de Guillén, na literatura de Gabriel Garcia Marquez, Jorge Amado ou John Steinbeck, contando a saga dos sem terra em sua luta por um pedaço de chão para garantir-lhes o direito de viver, esta América de José de Marti, do Zumbi dos Palmares, de Bolivar e do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, de todos quantos lutaram e morreram pela liberdade, esta América presente na bem-aventurança do samba, do merengue, ou na doce ternura do “blue”, nas nostálgicas notas do tango, esta América de mil ritmos, está sintetizada nas duas faces deste disco de Olga Ribeiro, cantando os sentimentos de todos os povos que habitam o Continente de Colombo.

Somos a fusão de muitos sangues e a soma de culturas diversificadas, o transbordamento dos anseios e sonhos de povos jovens a forcejar por um espaço e mais digno no contexto da sociedade universal contemporânea. Somos a América.

Aqueles sons das quilhas das náus colombianas mesclaram-se e se reproduziram séculos afora, em forma de música e poesia, e aportam agora, quinhentos anos depois, na sentida interpretação de Olga Ribeiro.

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Identidade Virtual
Por Flávio Paiva

O quinto centenário da chegada dos europeus ao continente americano é um momento histórico que não se deve deixar passar sem discutir alguns aspectos indispensáveis ao amadurecimento e soberania latino-americana. Muitos acreditam que os problemas de identidade são os pontos mais cruciais da questão. Por isso, quase sempre nos deparamos com observações de que é preciso resgatar a nossa identidade. Mas qual?

Vivemos a lógica de uma construção miscigenada e involuntária que apesar de tantos distúrbios e injustiças sociais revela um sentimento de unidade humanístico capaz de poder alterar o modelo colonial imposto há meio milênio. É uma razão solidária existente acima das cores e nível de instrução das pessoas, mas que não aparece facilmente por causa do escudo de normas hipnóticas religiosamente herdadas de nossos antepassados.

Não é raro encontrar alguém indignado com a condição de dominado e explorado que nos consome ou com as manipulações de novas ordens mundiais. Só que a maioria desses protestos acaba caindo na malha fina do próprio sistema que condena, quando passa a defender apneas os direitos de grupos isolados e regiões discriminadas.

Lutar para dividir, em nome de supostos resgates de identidade, significa embarcar no transe do virtual programa da modernidade. Se a Europa é separatista e os estadunidenses, alemães ou japoneses se sentem mais seguros com a nossa fragmentação, para a América Latina a grande saída é a integração cultural, política e econômica. É um diferencial combatido pelos neocolonizadores que investem pesado na desunião de grupos étnicos para que se odeiem, mesmo sendo todos marginais na mesma terra. Uma velha estratégia também desenvolvida por Cortez e Pizarro para dizimar os Astecas, Maias e Incas.

A falta de convivência com a diversidade foi o segredo da derrota ameríndia. Hoje, com 500 anos depois, este Continente inverteu seu paradigma e caso queira mudar a rota da idéia de progresso que o mantém atracado no cais do subdesenvolvimento, é só começar a perder o medo de ser diferente. A identidade não é necessariamente o que uma sociedade manifesta mas o grau de concepção que as pessoas têm das suas manifestações.


Andamento

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A Arte nos 500 anos

Os cinco séculos de colonização da América não poderiam prescindir de inúmeras manifestações artísticas por todo o ocidente. Umas para festejar a vitória dos conquistadores e outras para criticar a invasão. Todas, porém, provocam reflexões importantes e merecem ser apreciadas antes de tudo por se tratarem de obras de arte.

São inúmeros eventos que na Europa e Estados Unidos há tempos celebram os 500 anos do “terra à vista”. Foi montada uma verdadeira indústria dos descobrimentos. Na Espanha, os festejos ao quinto centenário levaram o Estado a criar, desde 81, uma empresa específica para administrar as comemorações. Madrid passou a ser a capital cultural da Europa, Sevilla faz a Expo’92 na ilha fluvial de Cartuja e Barcelona sedia as olimpíadas.

Paralelo a tudo isso, muitos artistas também produziram seus trabalhos dentro de uma visão crítica e sem uma estrutura comercial capaz de promovê-los. O certo é que existe um número incalculável de expressões artísticas dentro da temática dos 500 anos. Para citar apenas alguns:

– Milton Nascimento faz a “Missa da América Negra”, com textos de Dom Pedro Casaldáliga e do poeta Pedro Tierra – uma continuação do Projeto Missa dos Quilombos montada há mais de dez anos.
– A atriz Denise Stoklos anda pela Europa com o seu espetáculo “500 Anos”, através do qual pretende contar a história do ponto de vista do colonizado.
– “Esta terra é minha”, do Balé Stagium, coreografia e descobrimento em sua maior produção.
– Chico Buarque, Naum Alves e outros fazem a ópera “O que somos?”, com direito a coral lírico, balé e orquestra sinfônica.
– Nos EUA, a exposição “A arte na idade da exploração” é vista por mais de 80 mil pessoas na Galeria Nacional de Artes de Washington.
– Ridley Scott, diretor de “Telma e Louise” vai de Colombo, com Gérard Depardieu. Marlon Brando e John Glenn fazem o “Colombus, The Discovery” e até o tenor espanhol Plácido Domingos participa de um filme sobre a conquista, “La vision Absuetta”.
– Livros são muitos os que estão sendo editados sobre o tema. Dá para fazer uma estante especial só para eles. Da ficção, como em “Maluco”, do escritor uruguaio Napoleón Ponce de León, ao livro infantil a exemplo de “Mistérios no mar oceano”, de Ana Maria Machado, “Histórias dos Índios no Brasil”, coletânea editada pela Companhia das Letras, têm sido publicados trabalhos para todos os gostos e idades.
– No teatro, várias peças também estão sendo produzidas. Como a Ñaque, do espanhol Moncho Rodriguez, que passeia pela Europa dos navegadores, mas acaba no Brasil com Pedro Álvares Cabral e cia. A UFRN, promove um concurso de texto para teatro com o tema “Descoberta da América: a história que não foi contada”.
– “El Esplendor espanhol ” é o título de uma das coletâneas musicais editadas por conta do meio milênio de colonização. São dez os CDs com a música espanhola nos últimos 500 anos.
– A França enviou à América do Sul dois grupos teatrais, uma companhia de dança e o grupo pop Mano Negra, os reis da “patchanka”, que se apresenta inclusive no Parque do Cocó, em Fortaleza. Em Paris, houve uma multiplicação de “quartiers latins”, enfeitados com desenhos do argentino Hector Cattolica.

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O Palco do Espetáculo

O poeta desafiou o rio:
“quem fala melhor de amor?”
O rio topou, o poeta riu.
O poeta correu para rimar.
O rio correu para o mar.
E nessa trajetória,
rimou água com vida,
peixe com pescador,
natureza com fauna e flora,
Fortaleza com amor.
O poeta, encantado,
retirou-se da disputa
e fez ao rio um poema.
Um poema de amor e luta.

A preservação do rio Cocó, não é apenas a preservação de um rio é a preservação de
todo um ecossistema natural.

É mais que uma decisão política, é uma
verdadeira declaração de amor a
Fortaleza e a sua gente

É também uma ação articulada de saneamento básico, que envolve o canal do riacho do Tauape, a estação de tratamento de dejetos do Distrito Industrial de Maracanaú e um grande programa de drenagem e esgotamento sanitário.

O Parque do Cocó, o novo parque ecológico
de Fortaleza, ocupa uma área de 446,2 hectares
onde o ecossistema mais marcante é o manguezal.

A área do Parque está tangenciada por
algumas das principais artérias do sistema viário de Fortaleza, oferecendo acesso às mais
distantes zonas da cidade.

O Parque do Cocó é, na verdade, o maior parque
da América Latina, totalmente envolvido pela
malha urbana e com finalidade de preservação
do ecossistema.