O Povo, Economia, 23/07/2000
Por Rodrigo de Almeida

Na era do conhecimento, a cultura deixa de lado o caráter supérfluo para poder gerar riqueza, absorver mão-de-obra e ajudar na desconcentração de renda do País. No Brasil, embora o investimento em cultura ainda seja pequeno, o impacto da indústria cultural na economia é de 1% do PIB, um percentual relevante se comparado a setores estratégicos como saúde e educação. Sair do status de potencial para a prática de desenvolvimento econômico é o grande desafio de quem faz, produz e consome bens simbólicos no País.

(…)

Província com cara de metrópole
Para o jornalista e compositor e um dos coordernadores do movimento Música Plural Brasileira, Flávio Paiva, alguns exemplos servem para comprovar a vitalidade cultural cearense: “Podemos observar os bares culturais que conseguem descentralizar a movimentação cultural, os festivais de quadrilha juninas que acontecem por um esforço de resistência da periferia, a efervescência criadora da nossa gente das artes plásticas, do teatro, da música, da dança e de outras manifestações mais ou menos articuladas”. Segundo ele, o que tem dependido da inventividade e malabarismo operacional para fazer as coisas acontecerem, os cearenses só merecem aplausos.

Se é assim, por que o Ceará não consegue se transformar numa referência nacional? “Na verdade, temos alguns obstáculos a serem superados, dentre os quais o receio de falar, de discutir abertamente esses gargalos”, afirma o compositor. “Fortaleza tem uma cara imobiliária e demográfica de metrópole, mas é uma província, com todas as limitações de mando, dependência e controle oficial que uma cidade do Interior tem”, completa.

Na avaliação de Paiva, para termos um ambiente capaz de satisfazer nosso desejo de expressão artístico-cultural e representar, de forma decente, fonte de renda para a população, “precisamos definir uma visão de futuro, de destino, de sociedade”. E conclui: “Sem saber para onde vamos coletivamente, ficamos dependendo da loteria de brilhos individuais”. Nessa equação, porém, ele se revela otimista: “Temos boa matéria-prima para dar esse salto. Falta levantar a cabeça”. (R.A)