Coisas da natureza – Os frangos indianos
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº 152 (Editora Riso), p. 18
Edição de novembro de 2014 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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FAC-SÍMILE

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Uma coisa que o meu pai Toinzinho faz bem é saber observar a natureza e matutar sobre o que percebe. Ele está com 93 anos e continua atento ao que se passa ao seu redor. No fim de semana dos dias 18 e 19 de outubro de 2014, fui fazer uma visita a ele e a minha mãe Socorro, em Independência, e, à noite, quando estávamos sentados na calçada de casa, ele me contou que o frango que eu havia comido no jantar tinha uma história que dava o que pensar.

Contou que da ninhada da galinha indiana nasceram dois pintos machos. Os dois foram criados soltos no quintal, ciscando juntos, comendo juntos, crescendo juntos. Tornaram-se dois frangos cheios de saúde e de vigor. Foi então que o meu pai decidiu separá-los, reservando a cada um deles destino diferente: um foi colocado no galinheiro para ser abatido e o outro ficou solto para ser o galo do terreiro.

Todo dia eles implicavam um com o outro. Na hora de comer, então, era uma desavença que chamava a atenção. Tanto da parte do frango que estava do lado de dentro do galinheiro, quanto da parte do que estava solto, do lado de fora. Até que um dia o que estava preso se soltou. De manhã, logo cedo, meu pai viu que o frango do galinheiro tinha escapado. Olhou para o quintal e constatou que o outro também não estava.

Os dois haviam sumido. Meu pai conta que pensou: “Estão pegados”. E ganhou os matos atrás deles. Recomendou ao Lisboa e ao Manezinho, que trabalham com ele na Fazenda Manchete, que saíssem à procura dos frangos. “Bicho valente é frango indiano. Se sumiram os dois de uma vez, só poderiam estar agarrados brigando; eu não sabia onde, mas sabia que o desaparecimento dos dois de uma vez só indicava briga”.

Depois de muita procura, o Lisboa achou os dois. Estavam brigando nas pedras da curva do rio Cupim. “Brigaram tanto que se sujaram todo de sangue. Um estava para matar o outro; qualquer um poderia morrer naquela peleja. Apartei os danados novamente. Coloquei no galinheiro o que estava destinado ao abate e deixei solto o que estou querendo que fique para galo. Tudo voltou ao que era antes: na hora de comer, o que estava fora do galinheiro comia, mas insultando o que estava preso. Era comendo e insultando o outro, bicando o portão, querendo confusão. E o de dentro também contava suas histórias”.

Quando eu telefonei que ia passar o fim de semana com eles, a minha mão solicitou ao meu pai que matasse o frango para o almoço do sábado. O frango, que vai ser o galo, percebeu que o outro não estava mais no galinheiro, e quando o meu pai colocou o milho para ele comer, ele pegava um ou outro caroço, mas se afastava da comida para procurar o irmão. “Ele dava voltas, procurava, procurava. Vi que ele estava querendo encontrar o outro. Como não encontrou, também não quis comer. Observei que estava existindo aquilo. São coisas que existem no mundo; coisas da natureza”, concluiu com ar de admiração aos mistérios da vida.