Com o jeitinho brasileiro
Diário do Nordeste – Caderno 3, p.2, 13/12/2014
Foto: Marcos Vieira
Como gíria cearense, “invocado” traduz um sujeito cismado, bravo, desconfiado. No entanto, para o jornalista e escritor Flávio Paiva, a cearensidade contida na expressão vai além disso: “Invocado é um estado de espírito em uma situação na qual as pessoas se encontram deslocadas do que é padronizado”.
Na música, a palavra se aplica perfeitamente para Flávio. Assim, dá título ao seu mais novo livro-CD, editado pelo Armazém da Cultura, que será lançado amanhã (14), às 16 horas, no Teatro Carlos Câmara. “A música brasileira tem uma riqueza enorme que acaba não sendo devidamente aproveitada em sua extensão, porque há classificações feitas ao longo do tempo por interesses políticos, da indústria cultural ou por vícios da historiografia. ‘Invocado’ é esse sentimento de que o fazer música está atrelado à existência da pessoa, não de ser artista, de estar no mercado, mas da música na vida comunitária”, explica Flávio.
A Música Plural Brasileira (MPB) – conceito criado pelo escritor a partir da diversidade da música feita no País – perpassa “Invocado” nas 10 canções do disco. Ao planejar o repertório, o escritor elencou compositores do Estado com repertório relevante que dialoga com o conceito do livro-CD. Dessa forma, integram o disco e conduzem o texto de Flávio Paiva composições de Alberto Nepomuceno, Petrúcio Maia, Evaldo Gouveia, Orlângelo Leal, do próprio Flávio Paiva, dentre outros.
No livro, o autor versa sobre a valiosa música cearense brasileira – como salienta, rompendo com as categorizações de que música produzida nesta região é local, nunca brasileira – e a construção do projeto. “Como o trabalho é sobre música, achei que caberia fazer o CD como ilustração de áudio na argumentação, porque o livro tem o recorte da música feita aqui. O Ceará sempre teve um caráter muito aberto, a característica de ter uma cultura aberta, com uma música que é multiétnica”.
Parceiros
“Invocados” reúne amigos de longa e recente data. André Magalhães, amigo de Flávio há cerca de 15 anos, assina a produção do disco; a banda Dona Zefinha, cujos integrantes são conhecidos do escritor antes mesmo da formação do grupo, interpretam as composições. “É um grupo de artistas que admiro por fazer música por essa necessidade invocada. Há muitos anos acompanho a Dona Zefinha e vi esse caráter honesto e cultural do trabalho deles, um grupo natural na representação desse espírito invocado”, avalia Flávio.
O CD ainda conta com a participação da cantora, compositora e dançarina Fanta Konatê, de Guiné-Conacri. Segundo Flávio, as referências musicais trazidas por Fanta de sua região conversam com a proposta de mostrar o “outro Brasil” no Ceará.
Na tarde deste domingo, a Dona Zefinha fará show apresentando o repertório de “Invocados”. Além disso, o lançamento contará com a participação de Fanta, que interpreta “Dança de Negros – Batuque”, de Alberto Nepomuceno, com letra de Flávio, André Magalhães e da própria cantora, e apresenta um número de dança. O sociólogo e pesquisador Marcos Vieira ainda irá expor fotografias de momentos de interação entre os participantes de “Invocados”, na Lagoa de Messejana.
Fonte: Diário do Nordeste