Férias em Foz de Água Grande
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.3
Quarta-feira, 31 de dezembro de 2014 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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Em muitas circunstâncias a opção de aproveitar parte das férias em Foz do Iguaçu apareceu nos nossos planos familiares, mas havia sempre algo que acabava fazendo com que essa alternativa ficasse para depois. Talvez uma das mais fortes influências a contar negativamente para nossas desistências tenha sido a sensação de que se vai a Foz apenas para comprar, apesar das cataratas e de Itaipu.

O tempo passou e o dilema bota-Foz-tira-Foz no roteiro chegou ao fim: estamos em Foz e, já adianto, gostando muito. As abordagens sobre ofertas de compras não tiram o brilho do lugar. É certo que esse estigma de que Foz é apenas um entreposto para farra do consumismo na grande feira de Ciudad del Leste, no Paraguai, ou no free shop de Puerto Iguazú, na Argentina, reduz a importância desse destino turístico.

É curioso e diletante circular em uma tríplice fronteira, com três cidades tão distintas. Foz do Iguaçu com sua infraestrutura hoteleira e de restaurantes movimenta um área urbana de cerca de 700 mil habitantes, integrada com a boa comida e a vida noturna de Puerto Iguazú, e com a experiência de feira em massa de Ciudad del Este. Mas, principalmente, catalisa o potencial de dois monumentos, um da natureza e outro da engenharia.

O monumento da natureza, compartilhado com a Argentina, é formado pelas cataratas do rio Iguaçu, um incrível volume de água em movimento que despenca multiforme no canion gigante que abre a terra no meio de uma biodiversidade de Mata Atlântica. Isso ocorre entre dois parques nacionais com mais de 600 mil hectares de áreas protegidas e outros 400 mil em florestas nativas.

O lado argentino oferece uma experiência de contato mais direto com a natureza, com trilhas mais longas e proximidade maior das cataratas, enquanto o lado brasileiro, dirigido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), possibilita, além do contato com a floresta, um espetáculo visual deslumbrante das imensas quedas d’águas em toda a sua extensão.

Dá vontade de passar o dia todo por lá. Cada queda d’água tem uma beleza própria, desde as que caem em fiapos até as que vaporizam o cenário com suas nuvens de pingos esvoaçantes. Arco-íris aparecem por todo lado. É festa de contemplação para a mente e de sensações para o corpo. O calor intenso do sol, as sombras das árvores e os respingos das cachoeiras produzem uma vivência sensorial indescritível.

Bom, esse é o monumento da natureza, compartilhado com a Argentina. Já o monumento da engenharia é a hidrelétrica Itaipu Binacional, exitosa experiência de construção e de gestão conjunta e paritária entre o Brasil e o Paraguai. A Itaipu tem 40 anos e, com seu volume de água de 29 bilhões de m³ e 170 km de extensão, exibe com orgulho o slogan de maior geradora de energia limpa do planeta.

Fizemos o Circuito Especial de visitação a Itaipu. Nesse programa, percorre-se primeiro de ônibus a parte externa da hidrelétrica antes de visitar o interior da barragem. São duas horas e meia de apreciação da sua estrutura colossal, com vistas de um lado para o lago e do outro para o rio Paraná. Enormes comportas de captação e tubos com mais de dez metros de diâmetro por onde passam até 700 mil litros de água por segundo.

De toda a energia produzida pela Itaipu, 10% por cento abastece 75% do consumo no Paraguai e 90% atende a 17% da demanda brasileira. Como é uma parceria meio a meio, para que seja assim, o Brasil compra 40% da parte que o Paraguai tem direito na energia gerada por essa hidrelétrica binacional.

No interior da barragem, pudemos ver o encontro convergente de imensos blocos de concreto, que, por boa analogia, eles chamam de catedral; uma galeria de montagem com um quilômetro de extensão; a cabine de comando eletrônico das operações, o controle de segurança e uma turbina em atividade. Como além de não poluente a hidrelétrica é uma indústria renovável, um dos momentos de reflexão do trajeto é quando vemos a água que passou pelas turbinas ser devolvida ao leito do rio a fim de que siga o seu curso natural.

Durante o passeio pode-se ver da janela do ônibus as obras de construção do campus da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila), que já vem funcionando desde 2010 no Parque Tecnológico da Itaipu. Do mesmo modo que temos em redenção (CE) a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Foz do Iguaçu (PR) temos a Unila, com a finalidade de promoção acadêmica e científica solidária pela unidade continental, sobretudo dos países membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

Dentro das ações voltadas à preservação do meio ambiente, a política de sustentabilidade da Itaipu mantém um canal de dez quilômetros, fazendo a ligação entre o trecho do rio Paraná que fica logo após a usina e o lago de água represada. É por esse Canal da Piracema, com obstáculos de pedra e lagoas em um desnível de cento e vinte metros, que os peixes fazem a migração reprodutiva. Entre aves, borboletas e quatis, estamos curtindo Foz na acepção guarani de “Iguaçu”, que quer dizer “Água Grande”.