Vivências de férias na Casa Grande
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.4
Quarta-feira, 29 de julho de 2015 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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FAC-SÍMILE

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O que vem acontecendo espontaneamente com filhos de pessoas que interagem com a fantástica experiência de convívio social e de emancipação da infância desenvolvida na Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, no Cariri cearense, começa a ser estruturado para receber crianças e jovens cujo horizonte do viver não acaba nas ofertas da trama da modernidade urbana.

Essa experiência de inserção concreta de crianças e adolescentes nas histórias e práticas culturais de uma comunidade com densidade orgânica fortalecida e transformada por um dos mais eficazes projetos brasileiros de potencialização infantil e juvenil, e que se tornou um valor percebido por pais e educadores, lançará até o final deste ano um programa de vivências de férias.

Sempre abertas e com altivo sentido de pertença, as crianças que constroem essa experiência relacionam-se facilmente com quem chega. Como no Sítio do Picapau Amarelo, do escritor Monteiro Lobato (1882 – 1948), a Casa Grande criada pelo educador social Alemberg Quindins é um lugar onde a realidade se torna apreensível pelo exercício da curiosidade, da memória, dos saberes e da relação com a natureza.

Com base na integralidade da vida em sociedade e tendo no afeto, na confiança, na responsabilidade compartilhada e nas possibilidades criativas suas plataformas de emancipação, a Fundação Casa Grande desenvolve há mais de duas décadas ações educativas com meninas e meninos em Nova Olinda, cidade de 15 mil habitantes localizada no sopé da Chapada do Araripe, a 57 km do aeroporto da Juazeiro do Padre Cícero.

Um dos segredos do êxito desse projeto sociocultural é o seu caráter agregador, sobretudo no envolvimento das famílias da garotada que faz a Fundação. Em uma economia dependente da extração de calcário e da agropecuária de subsistência, é fundamental o turismo de inspiração comunitária, desenvolvido a partir da criação de pousadas domiciliares e serviço de transporte associados às atividades da Casa Grande.

Outro aspecto de grande importância nessa experiência é a abertura de janelas de negócios para as meninas e os meninos que vão crescendo. Eles mantêm seus vínculos de dinamizadores e guardiões da Casa, mas passam a aplicar os conhecimentos aprendidos em atividades de empreendedorismo social, como produtores de eventos, comunicadores, operadores de som, fotógrafos, formuladores e realizadores de novos projetos.

A vivência de férias que oportunizará a estudantes de outros municípios, estados e países o acesso a esse espaço de brincadeira e aprendizagem, de banho em recantos de lendas e visitas a geossítios, de trilhas ecológicas e ecomuseus de mestres da cultura, é uma das dimensões extensivas do sentido de sustentabilidade da Fundação.

Assim, essa oferta de convívio social e cultural que está sendo pensada para os períodos de férias é parte da Casa Grande, enquanto sistema de articulação, mas operada pela Agência Turismo Comunitário, empresa criada por um dos meninos que cresceu e – como aprendeu no aconchego inquietante da Casa Grande – continua encarando o mundo como um lugar onde a vida é reinventada a cada instante.