Sete notas de estrada
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.4
Quarta-feira, 06 de janeiro de 2016 – Fortaleza, Ceará, Brasil

Artigo em PDF

FAC-SÍMILE

op_setenotasdeestrada

Nesses dias de passagem de ano pelos cenários encantadores do litoral oeste-leste potiguar ouvimos mais de uma dezena de CDs lançados em 2015, mas que ainda não havíamos tido tempo de escutar. Meu filho Artur e eu fizemos uma curadoria de cumplicidade sonora e sete dos discos que ouvimos na estrada seguem no som do nosso carro em 2016.

1. A Mulher do Fim do Mundo – Cheio de juventude e contemporaneidade, o novo disco da cantora carioca Elza Soares, de 78 anos, traz uma sambologia de composições inéditas em sonoridades roqueiras, rapeiras e eletrônicas, com temas e tramas urbanos processados pelo talento de um núcleo criativo que tem o guitarrista Kiko Dinucci e o compositor Rômulo Fróes entre seus bruxos.

2. É – A cantora gaúcha Duda Brack, de 21 anos, lança mão dessa forma flexionada de ser para dizer que existe, para demonstrar que existe e para exprimir essa existência em um indie rock experimental cheio de borbulhas e distorções. No final da música A Casa Não Cairá, de Caio Prado, ela recita: “O que eu quero é arregaçar o coração à vida e que ele cresça em sua desmedida de nunca caber em si”.

3. Conversas com Toshiro – O compositor e músico paulista Rodrigo Campos entrou em uma curiosa e envolvente busca leminskiana por abstrações, figuras, signos sonoros e ideias fantasiosas da ética e da poética japonesas para falar de si e de sua vida no que o geógrafo baiano Milton Santos (1926 – 2001) chamava de urbanização corporativa. Com olhos espelhados de mangás, soul e groove, ele canta essas histórias.

4. Dancê – O novo disco da cantora santista-mineira, Tulipa Ruiz, traz canções para sacudir esqueletos desengonçados, em parelha de bateria e trompete, mas também para sacudir cabeça, tronco e membros, entre guitarras, sintetizadores e maracás, como na dançante Virou: “Era pra ficar no chão. Deu pé, decolou (…) Varia o jeito de olhar / Varia o jeito de ser / Varia a hora e o lugar / Só não varia você”.

5. A Praia – Compositor e músico carioca Cícero Rosa Lins, que faz da estética caseira uma conversa com o cotidiano urbano, chega com esse introspectivo álbum de estúdio. Na composição título ele revela uma necessidade da atualidade dos tempos digitais: “Ela me tirou de casa / Ela me levou na praia / Tinha um tempo que eu não ria cedo (…) E ela fez melhorar tudo que há / e me levou até tudo que é”.

6. Maravilhas da Vida Moderna – Com movimentos leves de pop-rock sentimental, arranjos elétricos e acústicos, a banda gaúcha Dingo Bells, formada por Rodrigo Fischmann (voz e bateria), Diogo Brochmann (voz e guitarra) e Felipe Kautz (voz e baixo) tem um quê de Daniel Groove. Canta temas de amor, angústia e convivência com a coragem dos versos e harmonias simples.

7. Homem Bom – O grupo de Niterói ataca com um tipo de blues pra lá de rock‘n’roll. Jan Santoro (vocal), Daniel Leon (gaita), Vinícius Câmara (baixo), Renan Carriço (bateria) formam a Facção Caipira, com som divertido, caricatural, purgativo e despretensioso. A composição de Jan Santoro que dá título ao álbum diz assim: “Eu tava em pé na estação / Ao lado de um homem bom / Que não tinha ouvido para julgar (…) Corre que esse trem não quer parar”. Partiu!