O despertar de Aracati
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.4
Quarta-feira, 11 de maio de 2016 – Fortaleza, Ceará, Brasil
FAC-SÍMILE
Conta-se em dezenas o número de ruas de Fortaleza que têm nome de filhos de Aracati: Costa Barros, Pedro Pereira, Monsenhor Bruno, Beni Carvalho, Castro e Silva e Barão de Aracati estão entre os aracatienses presentes nos endereços de diversos bairros da capital cearense por serem figuras ilustres das artes, da literatura e da política.
Basta fazer um rápido passeio no tempo para se perceber que a vida e a obra do poeta Paula Ney, do escritor Adolfo Caminha, do pescador abolicionista Dragão do Mar, da artista plástica Nice Firmeza, do pianista Jacques Klein e do ator Emiliano Queiroz são provas incontestes da qualidade, da grandeza e da continuidade da contribuição de Aracati à nossa história e cultura.
O ambiente cultural e econômico de Aracati foi potencializado também por personalidades que não nasceram lá, mas que tiveram grande participação na vida da cidade, como a dramaturga feminista Francisca Clotilde e o comerciante português José Pinto Martins, que levou a tecnologia do charque aracatiense para desenvolver as fábricas de carne seca que deram origem à cidade de Pelotas (RS).
Aracati tem uma cultura fortemente associada ao seu papel de entreposto comercial durante os séculos XVIII e XIX, nos ciclos do couro e do algodão, mas também a momentos históricos como a passagem do navegador espanhol Vicente Pinzón, que aportou na praia de Jabarana (Ponta Grossa) em fevereiro de 1500, e o fato de ter sido sede da Confederação do Equador, em 1824. Essas histórias estão materializadas nos sobrados e nas igrejas do seu núcleo urbano, tombado pelo Iphan em 2000 como patrimônio nacional.
Quando da recente instalação das usinas eólicas na zona do Cumbe, foram descobertos dezenas de sítios arqueológicos com artefatos de pedra e cerâmica dos habitantes nativos do continente, bem como encontrados restos de louça dos colonizadores. Essa comunidade tem toda uma história com paisagens de cata-ventos, desde os antigos irrigadores feitos de carnaúba às atuais torres de concreto e metal para a produção de energia dos ventos.
O turismo tem sido o motor da economia sustentável de Aracati. Mais de 320 mil turistas visitam Canoa Quebrada por ano, praia que há meio século se tornou referência internacional. Não há, entretanto, uma sinergia entre o patrimônio histórico e cultural de Aracati e a oferta hoteleira e de lazer praiano de Canoa, embora uma esteja a apenas dez minutos da outra.
Com base em pesquisas que revelam a propensão do turista de ficar mais alguns dias em Canoa Quebrada se a região disponibilizar atrações históricas e culturais, o sociólogo e fotógrafo Marcos Vieira, novo secretário de Cultura e Turismo de Aracati, lançou no sábado, 7, um programa mensal de revitalização da Rua Grande, tendo como princípio o respeito aos modos culturais de uma gente que gosta de sentar nas calçadas para conversar enquanto pega o famoso “Vento Aracati”.
O turista será convidado a vivenciar na Rua Grande uma movimentação cultural que, antes de tudo, é boa para quem mora na cidade. E essa gente gosta da moqueca de arraia da Quixaba, das dramistas de Aroeira, das marionetes gigantes do Hélio Santos, do canjirão (doce de castanha de caju) da Boca do Forno, das comidinhas do Café D’Amélia e do refresco de tamarindo com cravo da Casa Ponciano.
O despertar de Aracati passa pela retomada do orgulho do aracatiense por sua terra, também no que ela tem de vínculos históricos, culturais e econômicos com Fortim, Icapuí, Jaguaruana, Itaiçaba, Palhano, Beberibe, Baraúna e Mossoró. É uma cidade que conta, entre seus equipamentos de cultura, com cinco teatros e dois cinemas. Mais que isso, tem o emblemático rio Jaguaribe, um aeroporto internacional e o trunfo de ser o berço do Dragão do Mar.