JORGE CONSUEGRA (1949 – 2016) – Bravo agitador cultural
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº171 (Editora Riso), p. 4-5)
Edição de junho de 2016 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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FAC-SÍMILE

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¡Llegóooooooooooooooooooooo Minooooooooooooooo!
¡Genial!
Muy genial
Gracias.
Mil gracias.
Genial.

(…)

Mi querido compañero Flavio:
llegó la Rivista…¡Felices! y aunque no lo creas, de inmediato llamamos a nuestros amigos, afectos por la publicación y ya hay una fila para poderla leer. Créelo, pero ya somos un pequeño batallón de amigos que leemos con inmenso gusto y nos divertimos con el humor de Mino.

(…)

No te imaginas cómo gozamos con Mino. Con PoeMinos, mucho más. Nos divertimos mucho, de verdad y con nosotros muchos amigos que esperan siempre que les prestemos las revistas. Ellos se divierten tanto como nosotros. No sé de dónde saca tanta, pero tan imaginación.

(…)

Mis queridos Andrea, el gran Lucas, el inolvidable Artur y mi compañero Flavio: ustedes jamás se llegarán a imaginar cómo nos divertimos en casa con la Rivista…las leemos dos y tres veces, las compartimos con los amigos, nos reímos mucho, las disfrutamos como malucos, como locos ¡qué maravilla!

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Era com mensagens assim que o jornalista, escritor e professor colombiano Jorge Consuegra (1949 – 2016) nos dava conta do recebimento da RIvista. Esses trechos das suas correspondências mostram o espírito elevado, o bom humor, o carinho e a humildade com que essa grande personalidade da cultura latino-americana tratava quem produz arte e literatura no nosso continente.

A viagem de volta feita por Jorge Consuegra no dia 20 de maio passado, depois de anos vencendo uma leucemia, teve grande repercussão nos meios jornalísticos, acadêmicos e oficiais de cultura do seu país. Fez jornalismo cultural em jornais como El Espectador e El Tiempo, trabalhou em rádio e televisão, e, como professor universitário, é enlevado por estudantes e profissionais que atribuem a ele a paixão pelo jornalismo.

Tive os primeiros contatos com ele logo no início da década de 1980, quando iniciamos o nosso duradouro intercâmbio com trocas de publicações e relações de amizade. Jorge me enviava o informativo de cultura Libros y Letras, da sua Agência Cultural de Notícias, e eu enviava para ele o Um Jornal Sem Regras, revista de um coletivo de comunicação, editada à época por mim, então estudante de jornalismo, e pelo bregastar Falcão, quando estudante de arquitetura.

Fomos nos conhecer pessoalmente uma década depois, quando passei por Bogotá com a Andréa e, mesmo tendo apenas o endereço de sua caixa postal, resolvi dar um jeito de encontrá-lo. Foi muito divertido, pois peguei o catálogo telefônico e sai ligando para todos os lugares que tinham alguma relação com jornalismo.

Em uma dessas tentativas fui atendido pela secretária do curso de comunicação da universidade Inpahu, onde ele lecionava. Mas ele não teria aulas naquela semana. Expliquei que era um amigo do Brasil e que precisava falar com ele. Insisti tanto que a moça me passou o número do telefone do trabalho da sua mulher Betty.

Interessante é que, ansioso, não percebi que eu já tinha aquele número na minha agenda. Por meio dele havia ligado minutos antes para a Varig, remarcando o voo de Bogotá para Manaus. Pois bem, volto a chamar e, ao procurar pela Betty, mulher do professor Jorge Consuegra, percebi que a ligação tinha sido feita novamente para a Varig. No que fui pedindo desculpas, a voz da atendente gentilmente logo me confortou, informando que ela era a Betty e que trabalhava na Varig.

Foi uma festa. No final do dia nos encontramos no hotel para ir jantar na casa deles, onde conhecemos sua filha Natalia, que era uma garotinha. Inquieto, o Jorge não perdeu tempo e marcou uma aula extra para que seus alunos fizessem uma entrevista comigo, enquanto articulista do jornal O Povo, e com a Andréa, que era estudante de comunicação na UFC. Lembro-me bem daquela agradável sabatina, com uma turma animada, datilografando nossas respostas em máquinas de escrever portáteis.

Fortalecemos nossa amizade e ampliamos as nossas trocas. Tornei-me um admirador do seu trabalho como jornalista cultural que amava o seu país, um sonhador que tinha amor ardente pelos livros, pela literatura, mas também por cinema e música. Jorge Consuegra amava o Brasil, desde o gosto por beber guaraná Antarctica até o gozo de ler a RIvista do MINO.

Em 2009 nos encontramos novamente em Bogotá. Foi a nossa vez de apresentar a ele, à Betty e à Natalia os nossos filhos Lucas e Artur, que a partir de então passaram a chamá-lo afetuosamente de “Tio Jorge”. Ficamos hospedados em sua casa. Ele e a Betty nos cederam o próprio quarto para nos acomodarmos. Foram dias maravilhosos, comendo arepa e obleas, brincando na Maloca, enfim, usufruindo da vida social e cultural da cidade.

Jorge Consuegra começou a trabalhar com 14 anos como contínuo no jornal La República, um ano após ter se estabelecido em Bogotá, oriundo de Bucaramanga, onde nasceu no dia 22 de dezembro de 1949. Daí, desenvolveu-se o admirável profissional, que ficou conhecido por pregar o valor da palavra e a negação radical da autocensura, por respeitar a audiência e os leitores e por defender veementemente a importância de espaços para a cultura nos meios de comunicação.

Com o projeto Libros y Letras, que mantém uma revista impressa (distribuída gratuitamente em centros educacionais e culturais) e digital (www.librosyletras.com), conduzida por sua filha Natalia Consuegra, Ileana Bolívar, Hache Holguín e uma equipe de apaixonados por arte e literatura, passou a impulsionar as manifestações culturais da Colômbia e da América Latina. A Fundação Cultural Libros y Letras promove desde 2002 um Prêmio Nacional de Literatura, cujos vencedores são escolhidos por votação popular.

Nos últimos anos, esse bravo agitador cultural colombiano passou a enfrentar uma leucemia. Sobre esse assunto, Jorge publicou no dia 2 de maio um artigo – não no caderno de cultura, como de costume, mas no de saúde – no El Espectador: “Yo derroté la leucemia y para volver a ser un volcán en erupción en esta profesión que me fascina, el periodismo, y esperando con ansias regresar a las aulas de clases para enseñar un poco más el oficio más hermoso del mundo”.

Em que pese o tratamento correto, o apoio da família e dos amigos e seu senso de humor, ele não resistiu e faleceu na sexta-feira, dia 20 de maio de 2016. Curioso é que eu ainda não sabia da perda do amigo, mas acordei no sábado, dia 21, pensando nele. Fazia um bom tempo que não tinha notícias do seu estado de saúde. Resolvi enviar uma mensagem para a Natalia e ela me respondeu que o pai havia morrido no dia anterior. Fiquei chocado, mas não tive dúvida de que eu precisava compartilhar essa história na RIvista que ele tanto amava. E onde quer que ele esteja, ao receber essa homenagem certamente dirá:

¡Llegóooooooooooooooooooooo Minooooooooooooooo!