Dim e o Peito de pé
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº173 (Editora Riso), p. 12)
Edição de agosto de 2016 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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FAC-SÍMILE

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Antônio Jáder Pereira dos Santos era a forma como o menininho danado do bairro do Cruzeiro, em Camocim, escutava a chamada nas aulas que vez por outra conseguia assistir no Instituto São José. Era um garoto considerado pobre, mas toda vez que estava tomando banho com água de coco (para hidratar a pele), comendo caviar (sem saber que ova de peixe tinha esse pomposo nome) e lagosta (desconhecendo ser este crustáceo símbolo de comida cara), ou passando as férias em Jericoacoara (antes de ser uma praia internacional), se questionava sobre essa condição.

Em uma das tantas e tantas vezes que saía de casa para inventar brincadeira nas ruas da cidade, deparou-se com um homem que andava sem tocar os calcanhares no chão. Percebeu que não se tratava de um problema físico e ficou interessado em descobrir o que aquele andar realmente significava. Seguiu a estranha figura e a viu entrar em um bar e pedir uma dose de cachaça, alegando que era o dono de todos os barcos ancorados ao longo da esplanada do porto do rio Coreaú.

Ainda não conhecia a palavra megalomania. Ficou, no entanto, matutando sobre a cena de hipérbole argumentativa que acabara de presenciar. Maquina que maquina e começa a se dar conta de que no fundo, no fundo, ser pobre ou ser rico é mais uma questão de estado de espírito do que de posse ou não de determinados bens materiais. Tempo depois ouviu um rapaz do bairro falando para outro que era dono de um grande barco lagosteiro e, sem ter a embarcação para mostrar, argumentou que a tinha emprestado ao Peito de pé e ele ainda não a havia devolvido.

O menino Jáder, que tinha o apelido caseiro de Jadinho, foi crescendo, crescendo, e, quanto mais crescia, mais gostava de ser chamado por um nome que fosse capaz de expressar a grandeza da sua imaginação. Foi assim que passou a ser conhecido apenas como Dim. E por ter se tornado um importante artista plástico, inspirado no sentimento de que só existe brinquedo se houver brincadeira, ganhou o sobrenome Brinquedim.

Dim Brinquedim mora em um ecomuseu da infância, no município de Pindoretama (a apenas cinco dezenas de quilômetros de Fortaleza), onde tem sua oficina e sua casa-galeria integrados à natureza, com direito a riacho, parque de brinquedos gigantes, bonecos divertidos, balanços em árvores e uma engenhosa Trilha do Saci. No teto da casa ele construiu um helicóptero bem colorido, com um destemido piloto e hélices que giram ao sabor dos ventos.

Outro dia ele foi convocado a comparecer a uma fazenda em que o dono queria ter uma de suas esculturas no jardim da casa grande. Ao transmitir o convite o mensageiro foi logo avisando que o homem gostava de demonstrar a riqueza que tem, por isso o Dim deveria estar preparado para uma conversa de alto nível. Ao chegar à suntuosa propriedade, ele notou que havia um helicóptero bem na frente da casa, em distraída situação de ostentação.

Logo que o vaidoso empresário o cumprimentou, ele lembrou-se das palavras de advertência do mensageiro e adiantou a conversa: “Eu também tenho um helicóptero”. No que percebeu um certo estranhamento por parte do eventual cliente, acrescentou: “E sou amigo do Peito de pé”!!!