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Na árida paisagem dos campos nervosos e exibicionistas do Facebook, é possível fazer postagens agradáveis, criativas e boas de se curtir e compartilhar. O João de Paula, que é meu amigo nos mundos sociais real e virtual, inventou de publicar todos os dias versos da música popular brasileira e já passou de mil referências, sem repetir conteúdos e sem deixar de comparecer com novidades, chova ou faça sol.

Vejo este tipo de escolha de uso das redes sociais como a semente mágica do clássico João e o Pé de Feijão, conto de fadas europeu que fala do poder dos sonhos, na figura de um menino que aceita trocar uma vaca por feijões que, ao serem jogados no quintal de casa, germinam e crescem tanto a ponto de tocar o céu, passando das nuvens. Assim são as “Joias da MPB”, de João de Paula, com sua leveza edificante.

Ao chamar de “joias” os trechos publicados, ele sinaliza aos leitores que é coisa tirada do baú de relíquias de um dos maiores patrimônios imateriais do Brasil. Tão diversa e tão plural é a riqueza da nossa música que, em torno de um único gênero, a MPB, a divertida e valiosa pesquisa de João de Paula está para lá de mil e um dias, como a narrativa sem fim de Sherazade na tradição oriental.

A seleção das canções conta com a interação de outros aficionados por música. Os mais reincidentes são Ana Teresa, Benedito Ferreira, César Vale, Cláudio Menezes, Elêusis Alencar, Everthon Damasceno, Fátima Rodrigues, Fátima Severiano, Fernando Mourão, Galba Gomes, Gil Sá, Ines Aderaldo, Lúcia Cidrão, Luciano Maia, Madalena Bonfim, Marco Montenegro, Martinho Rodrigues, Maurícia Fonteles, Patrícia Macêdo, Paulo Lincoln, Paulo Verlaine, Pedro Gurjão, Regina Lúcia, Renato Rocha, Ricardo Albuquerque, Silvana Rocha e Zaneir Gonçalves.

Esse sentido de construção coletiva é outro ponto de importância que se pode atribuir à decisão de João de Paula de subir o pé de MPB. Significa que tem mais gente na aventura de revolver os ditos poéticos da música brasileira em meio a tanta confusão de banalidades criada pelo mercado de entretenimento de massa. Os gigantes dessa indústria não são lentos como os dos contos de fada, embora sejam igualmente grandes e comedores de gente.

Nessa longa subida de galho em galho, há também dicas indiretas e notas de cadernos de terceiros, como as do José Maurício; amigos que indicam gostos de outros, como A Voz do Povo (João do Vale), que Pedro Gurjão enviou como uma das preferidas do Gervásio de Paula; e o caso de Arrependimento (Sílvio Caldas / Cristovão Alencar), que Ielnia Johnson sugeriu em lembrança do Bergson. Algumas “joias” chegam de “cutucadas” de crônicas da Isabel Lustosa e desta coluna do Vida & Arte.

Há “joias” para netas e netos: Bailarina, Aquarela (ambas de Toquinho) e Gabriel (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) o vovô João de Paula dedica à Bia, à Isabela e ao Gabriel. E “joias” para recordar amigos queridos: Alegria (Assis Valente e Durval Maia) foi postada em lembrança do Cláudio Pereira. Outras “joias” servem de tributo: Canção da América (Fernando Brant e Milton Nascimento) teve publicação no dia seguinte ao falecimento do grande letrista mineiro. Trata-se, portanto, de uma coleção de afetos que, em tempos distópicos, são de grande valor: joias!