Foi entre alegre e reticente que recebi a notícia de que na pesquisa Mais Marcas, realizada entre fevereiro e abril deste ano pela Troiano Branding, Fortaleza aparece em segundo lugar como destino turístico preferido dos brasileiros de todas as regiões. A capital cearense, empatada com Santa Catarina, fica atrás apenas de Fernando de Noronha (PE), e logo à frente de Natal (RN), em uma demonstração de valor do potencial nordestino.
Na escuta envolvendo mais de 11 mil entrevistados das classes A, B e C, com perfil da população que tem acesso à internet, revelou-se essa grande atração pela capital cearense. Em sua análise de natureza perceptual o estudo, que aborda 30 categorias definidas pelos editores do jornal O Estado de São Paulo, publicado em Suplemento Especial do diário paulista na quarta-feira passada (31/05), indica a posição de liderança dos segmentos mais bem avaliados.
A colocação de Fortaleza é inspiradora, sobretudo tendo-se em conta o atual momento de crise política, instabilidade econômica e alta do dólar, quando as intenções de viagens ao exterior são reduzidas e direcionadas aos destinos nacionais. No entanto, o orgulho resultante dessa distinção entra em sinal de alerta quando se observa que a cidade ainda não tem uma oferta cultural à altura da atração que desperta.
Para corresponder a esse desejo manifesto, a cidade precisa melhorar muito do ponto de vista do aproveitamento do seu potencial cultural. Cada vez mais o turista também desejável quer atrações culturais variadas e de qualidade. A tendência do viajante é procurar viver a experiência do morador nativo, sentir o gosto de estar em um lugar diferente e usufruir das suas paisagens e cenas artísticas.
Isso só é possível quando o habitante da cidade tem uma vivência urbana na qual os bulbos culturais orgânicos podem formar suas próprias ofertas de encantamento. A fruição coletiva, com circuitos interconectados de campos de sentido, é o que permite a transmissão do algo mais real, simbólico e imaginário, capaz de assegurar a condição de conjunto potência a lugares tão especialmente sedutores como Fortaleza.
A cadeia socioeconômica do turismo é muito ampla. Agências de viagens, operadores turísticos, rede hoteleira, locadoras de veículos, restaurantes, bares, agentes de câmbio, centros de formação de pessoas, emuladores de negócios, realizadores de eventos e promotores de acontecimentos, são meios e suportes para a aproximação do turista com o que ele busca.
Investir nessa estrutura é fundamental, mas ela sozinha não atende por muito tempo as expectativas de quem deseja um lugar. A cultura, com suas manifestações artísticas e científicas, os estilos de viver, de lazer e de entretenimento das pessoas que a tradicionalizam e a renovam, é o que há de mais relevante na atividade turística.
Nesses tempos em que tudo parece ser a mesma coisa, o visitante está farto de viajar para descobrir semelhanças. Muitos têm procurado ouvir o pensamento local, seus espetáculos, sua estética, memória e inovação presentes no cotidiano sociomorfológico e cultural. Fortaleza tem muito para mostrar nessa perspectiva e, se quiser aumentar o tempo de permanência do turista, precisa, antes de tudo, despertar para o fato de que a sua cultura não é apenas a cultura dominante.