Dona Zefinha apresenta, neste sábado (22), na Bienal do Livro, o show baseado no livro-CD do escritor Flávio Paiva
Por Felipe Gurgel / Repórter
Lançado há dois anos, o livro-CD “Invocado: um jeito brasileiro de ser musical”, do escritor Flávio Paiva, ainda rende agenda para o espetáculo da Dona Zefinha, baseado na referida obra. Neste sábado (22), às 21h, dentro da programação da 12ª edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará, no auditório principal do Centro de Eventos (Édson Queiroz), o grupo de Itapipoca (CE) apresenta o show “Invocado que só”, com acesso gratuito.
O repertório parte da interpretação das 10 composições registradas no livro-CD, todas criadas por compositores cearenses. A obra traz versões de canções originais de Abidoral Jamacaru, Neopineo, Evaldo Gouveia, Luiz Fidelis, Xerém e Petrúcio Maia, entre outros.
Em entrevista por telefone, o vocalista da Dona Zefinha, Orlângelo Leal, rememora o convite de Flávio Paiva para o grupo interpretar as composições que ilustram o livro-CD. Observa a lida do escritor em mesclar literatura e música, citando projetos como “Festa do Saci” (2007), que já traziam o formato (livro-CD).
Orlângelo pontua como foi a experiência de gravar o disco, produzido por André Magalhães. Este já tinha trabalhado com a Dona Zefinha na produção do álbum “Circo sem teto da lona furada dos Bufões” (2012).
“O André estava morando no Ceará, e foi super massa, porque ele já era nosso amigo: teve tudo a ver ele fazer a direção musical”, declara Orlângelo.
O músico conta que, até receber o convite de Flávio, nunca tinha pensado em gravar esses temas. Nascido no Crato (CE), Orlângelo lembra que assistiu, no final da década de 1980, Luiz Fidelis cantar “Flor do Mamulengo”, ao vivo em Juazeiro do Norte, vizinho ao Crato. Nesse tempo, o artista andava em Juazeiro, passando férias na cada da Dona Zefinha que, mais tarde, deu nome ao grupo.
Linguagens
O formato do livro-CD, que remete ao hibridismo entre as linguagens artísticas, revela-se cada vez mais comum hoje, encontrando ressonância no que a Dona Zefinha já fazia, segundo Orlângelo Leal, “intuitivamente”.
“Desde o princípio, sempre trabalhamos com teatro e música. E, como linguagem, o teatro já se mistura com a literatura, com a música. Sempre foi espontâneo pra mim. Com o tempo, fui estudando e achei, o que a gente fazia, nas teorias, naquela ideia da ‘entropia’, como uma incapacidade de você definir as coisas”.
Rural
O show deste sábado vai contar com a participação do Neopineo, compositor da cômica “A Rural”, forró famoso pelo modo como o autor canta a letra “R”, exagerando no sotaque. A música é uma das que foi reinventada pela Dona Zefinha na coletânea.
“A característica desse show, também é contar sempre com um convidado ‘invoado’. Já teve o Luiz Fidelis, o Abidoral Jamacaru, o Messias Holanda, a Fanta Konatê, a Karine Alexandrino”, recapitula Orlângelo.
Ele adianta que, com Neopineo, a Dona Zefinha deve performar, fazendo “a simulação da Rural (o carro). Vai ter uma espécie de dramaturgia da música. É um momento muito humordo dentro do espetáculo”, observa o vocalista.
Orlângelo situa que, a cada edição do “Invocado que só”, a Dona Zefinha modifica a ordem das 10 canções do disco. Sem uma sequência muito certa, a ideia é renvolver o público, chamando cada convidado no meio ou no final da apresentação. O grupo ainda faz uma versão do repertório dos convidados. Em São Paulo (2015), a cantora Suzana Salles, da vanguarda paulistana, foi convidada, interpretando uma versão de “Nego Dito” (Itamar Assumpção) no palco.
Feedback
Indagado se o público percebe a ligação estreita que a ideia do show tem com a cultura local, Orlângelo Leal observa que a Dona Zefinha busca trabalhar dentro de uma perspectiva universal, que arte do Ceará.
Em 2017, o grupo deve visitar Sobral, Iguatu e Independência (CE), dentro de um projeto de circulação do espetáculo, apoiado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult).
Em Itapipoca, o show já foi apresentado. “E a gente leva o Flávio (Paiva) pra conversar com o público. A palestra se chama “Esse Alberto Nepomuceno era mesmo um invocado”. É uma fala ilustrada, na verdade, em que eu apresento a flauta nasal, um instrumento indígena, e o marimbau”, descreve Orlângelo.
Mais informações
Show “Invocado que só”, do grupo Dona Zefinha (Itapipoca/CE), baseado na obra do escritor Flávio Paiva (CE). Neste sábado (22), às 21h, na Bienal do Livro do Ceará, no auditório principal do Centro de Eventos (Av. Washington Soares, 999, Édson Queiroz). Acesso gratuito.