O pintor Aldemir Martins (1922 – 2006) foi quem me alertou para o fato de que um dos grandes entraves do Brasil é que aqui a ideia é de graça. Ideia não encomendada, então, nem pensar. Não há espaço para formulações desalinhadas. O fio entre a operação da vida e o viver é tênue demais. Quem se mete a não aceitar essas condições precisa desdobrar o tempo e reinventar o espaço, correndo o risco de se expor pela metade, sem a serenidade necessária para romper com a comodidade da omissão.

Estou entre os que trilham o enviesado caminho da realização associada ao fortalecimento ativo e altivo da infância e da cidadania orgânica. Nasci em 1959, na cidade de Independência, sertão do Ceará, e mudei para Fortaleza com 17 anos para estudar na Escola Técnica Federal (hoje IFCE). Na adolescência escrevia crônicas e poemas escondido. Tinha vergonha. Não conhecia pessoalmente ninguém que fizesse aquilo. Segui a intuição e um dia descobri que não era pecado nem nada gostar de expressar os sentimentos através da palavra escrita e de canções.

São longos segundos de imprecisão que valorizo em minha vida. Nesse percurso procurei sempre equilibrar atividades profissionais com a mania de escrever e de recorrer à música na construção de narrativas. Assim, desde 1979 passei a participar ativamente de movimentações sociais, políticas e culturais que me aproximaram mais e mais dos campos de sentido da infância e da cidadania orgânica. Em 1985 concluí o Curso de Comunicação Social na Universidade Federal do Ceará, onde fiz também especialização, e daí em diante passei a trabalhar como jornalista.

Nunca parei para imaginar como seria a minha vida se eu tivesse negado os quereres da intuição, se tivesse vacilado na hora de desenhar o meu próprio rumo. Nada do que tenho feito até hoje chegou a significar uma opção racionalmente inteligente à luz de cada instante do passado decorrido. Não sei para onde estou indo, nem sei para onde o mundo vai, mas sei que vou firme, empenhado na construção compartilhada do que der para ser melhor. Uma coisa é certa: a vida é lenta.