O acesso do Ceará à primeira divisão do Campeonato Brasileiro de futebol, com duas rodadas de antecedência, ampliou o tempo objetivo de comemoração da conquista, com a torcida, jogadores, comissão técnica e dirigentes podendo vibrar inclusive com o time em campo já classificado. O momento apoteótico será na tarde do próximo sábado, 25, quando a paixão alvinegra será toda festa na partida final do certame com a Arena Castelão lotadíssima.
Em frequência própria, a galera canta que é alvinegra, com muito orgulho, com muito amor. Esse contentamento é de todos os que torcem pelo êxito do futebol cearense e, neste caso, do Nordeste, considerando que o Ceará, juntamente com o Bahia, representará em 2018 essa região de grandes torcidas apaixonadas no grupo dos vinte principais times do país.
A felicidade é preta e branca, dia e noite, e enche de graça o coração de quem vestiu a camisa nas arquibancadas para ajudar o Everson em suas defesas, o Luiz Otávio e o Rafael Pereira na zaga, o Richardson, o Pedro Ken, o Raul e o João Marcos nas roubadas de bola, o Tiago Cametá e o Romário nas arrancadas laterais, o Pio nas faltas infalíveis,o Ricardinho, o Lima e o Leandro Carvalho na criação de jogadas, o Elton, o Arthur e o Magno Alves na hora do gol.
Falo com alegria dessa torcida que carrega o time nos pensamentos, que não se entrega e que vai além do jogo, porque também torço pelo Ceará e, ao meu jeito, estou sempre junto do Mais Querido nessa adrenalina positiva e sua emoção intensa. Braços, abraços e gritos bonitos de Te amo Vovô, vozes que soam em uníssono, sabor ancestral, tribal, sorrisos largos e sonhos sinceros.
Diz o hino composto por José Jatahy (1910 – 1983), um dos mais importantes artistas da nossa música, seu primeiro intérprete, que a glória do Ceará é lutar. Eis a síntese de uma admiração ardente, que se diferencia do calor das paixões amorosas apenas por não ter ameaça de duração. A beleza de torcer pelo alvinegro de Porangabuçu é que, em sua grandeza, o Ceará preenche o indivíduo de multidão, irradia esperança e espalha alegrias.
Quando vou ao estádio gosto de observar o comportamento projetivo da torcida. É visível a idealização do torcedor para com os atletas. Quando atendem a expectativa são o máximo, quando a frustram são xingados. Todo jogador vive essa oscilação de afetos. Na relação entre a arquibancada e o campo existe uma intimidade do aplauso com a vaia que é a alma secreta do jogo.
As alterações emocionais que misturam deslumbramento com decepção produzem a liga do torcedor com o time. O inexplicável tem muitas versões e é exatamente essa variedade de olhares e sentires que explica a fabulação no futebol. O torcedor é um ficcionista, um inventor de lógicas pouco racionalizáveis. A bola de quem torce é o condão dos atletas na aplicação de suas habilidades e competências.
Mesmo quando abandonado pela sorte, mesmo quando a partida é difícil e o resultado parece escapar, o torcedor alvinegro não abre mão do desejo de ganhar, e empurra o time: “Vai pra cima deles Vovô”. Essa sensação de compartilhamento faz bem. A impulsividade, a inquietação, o desespero e o contentamento da felicidade alvinegra estão na sensação de amor incondicional que a torcida tem pelo time das grandes campanhas.