A violência do consumismo na infância
Artigo publicado no Portal Cultura Infância
Sexta-feira, 20 de Junho de 2008 – Fortaleza, Ceará, Brasil
Das formas de violência que têm perturbado a paz no mundo infantil a prática do consumo inconseqüente é uma das mais intensas e danosas. Por ser, a um só tempo, de ordem ética, econômica, política, cultural, social e ambiental, essa espécie de síndrome do ganho com a destruição contribui fortemente para a exaustão dos recursos naturais e das relações sociais.
A antecipação ao consumismo, produzida pela precocidade infantil, e a elevação da expectativa de vida dos seres humanos, passaram a formar uma equação difícil de ser solucionada. Quer dizer: se o consumo exagerado da grande maioria das pessoas passou a começar bem cedo e está durando por muito mais tempo, a sustentabilidade está comprometida.
O comportamento da sociedade brasileira diante dessa situação ainda é muito passivo, embora já existam diversas movimentações que demonstram posturas mais atentas, tais como as que levaram o Ministério da Justiça a estabelecer a Classificação Indicativa para a programação de tevê, e as demandas tratadas pelo Projeto Criança e Consumo, no sentido de suspender peças publicitárias, consideradas abusiva, dirigidas à criança.
Mesmo assim, o número de pessoas que se mobilizam para influir na reversão desse quadro ainda é muito pequeno. Muitas sequer percebem a gravidade do problema e outras tantas até percebem, mas se sentem tão impotentes diante da situação que acabam atrofiando a indignação sob a máscara de vítima. O fato é que, conscientes ou não, todas sentem o problema na sua extensão cotidiana.
Os principais efeitos do consumismo na infância revelam-se na intranqüilidade freqüente e na insatisfação generalizada, resultante da incapacidade das crianças de lidarem com as suas frustrações. Destituídos de seus desejos autênticos, por conta da erotização precoce, da imaginação pré-realizada, da obesidade forçada pelo nerd-sedentarismo e pelas vendas casadas dos fast-foods, meninas e meninos, tornam-se cada vez mais intolerantes e individualistas.
A violência do consumismo na infância tem contribuído para aumentar o estresse familiar e escolar. A sociabilidade é um desafio que passa pela cultura, pela arte, pela contemplação, pelo amor, pela vontade de inventar um outro estilo de vida, onde a natureza mereça respeito, onde o parâmetro humano seja considerado e onde as crianças possam ter o direito de inventar uma experiência para si mesmas, sem o assédio estúpido da pedofilia de mercado.