Em um dia normal de trabalho, a Dra. Floriana Bertini, médica brasileira nascida em Turim, deu-se conta de uma missão recebida da sua própria sensibilidade de cardiologista dedicada a cuidar da saúde, do bem estar e do prazer de viver das pessoas: multiplicar a beleza das flores.
Certa vez, na área verde do hospital, próxima à copa, ela percebeu uma flor solitária que pedia por sua atenção. Parou, olhou nos olhos da flor e deu vontade fotografá-la. Fez isso com o celular e seguiu para tomar um café, aproveitando o que restava do intervalo do seu expediente.
Ao chegar em casa, observou a foto com calma e começou a pensar no quanto tinha sido prazeroso fazer aquele registro. E pensou no tanto que seria mais prazeroso ainda mostrar aquela linda flor a outras pessoas. Publicou nas redes sociais, iniciando em 7 de janeiro de 2016 uma coleção de imagens florais que passou a chamar de “As flores no caminho”.
Floriana sentiu também o desejo de compartilhar o que lhe chegava à mente e ao coração no momento desse gesto. Passou então a postar pequenas mensagens juntamente com as flores fotografadas. Escolhi algumas dessas frases para mostrar o quanto é significativo o que pode nascer espontaneamente da beleza:
- “Acredito na construção de uma sociedade em que cada um disponibilize os seus talentos a serviço dos outros naturalmente, sem fazer força. Servir talvez seja a aptidão que mais faz sentido na dimensão humana”
- “Cabe a cada um de nós o direito e a escolha de como enfeitar as paredes da própria vida. Eu fico com as flores, com as cores, com os amores!”
- “Ouvi alguém falar que esta flor era cor de pele. Cor da pele de quem? Pele de gente, assim como a alma, não tem cor: tem luz, brilho, transparências”
- “Uma rosa no céu… As flores, os sonhos e as amizades não nascem apenas na terra”
- “Entendo o processo evolutivo como uma sequência de cascas abandonadas. Precisamos de cascas, em determinados momentos: cascas defendem, protegem. Só que também aprisionam. Então vem o tempo, que amolece as cascas e nos dá a oportunidade de novos nascimentos de nós em nós mesmos: edições melhoradas…”
- “Ficou ali, escondidinha, ouvindo o barulho de sua própria respiração, esperando a chuva passar. Quando a chuva passou, a terra com cheiro de grama molhada, saiu, feliz, para dançar, mais leve do que o vento… e sua saia branca girava, girava, girava… As fadas não gostam que a chuva molhe suas asas, mas adoram pérolas de orvalho em suas roupas!”
- “Uma flor de mato que nasceu assim, sem ser plantada: e, acima, a imensidão do céu. Tudo é tão relativo! Certamente, quando a semente brotou, pequena, não se preocupou em saber qual seria seu tamanho… nem se, algum dia, alcançaria os seus objetivos… a semente, apenas, escolheu viver”
- “Flores: flores para a família, para os amigos, para os estranhos. Flores para celebrar encontros, flores para adoçar despedidas. Flores para agradecer pela vida”
- “Amor: quando, de olhos fechados, enxergamos um dentro do outro e não precisa falar nada para ouvir tudo”
- “Essência: não importa que seja amarrotada, desde que seja doce. Não importa que seja doce, desde que seja verdadeira. E que venha de dentro, aos poucos e sempre, com coragem”
Na filosofia poética de Floriana Bertini, a sabedoria está em “chegar mais perto para enxergar melhor”. As belezas rondam a rotina, embora nem sempre tenhamos tempo de cheirar e de ver o que encanta. O Brasil é um país florido. São muitas e muitas as folhas catalogadas e inúmeras as que não têm sequer um nome. Flores nativas e flores originárias de outros lugares, de todos os tamanhos e formas.
A paixão pelas flores é a paixão pelo outro que também precisa apreciá-las. Isso faz com que “As flores no caminho” seja um projeto de intensidades, de semeadura de alegria em nossos corações. Na vida “cada um é o responsável para cuidar do seu próprio jardim”. E tudo fica mais feliz quando espalhamos as belezas que o mundo nos oferece de graça, como vem fazendo Floriana, que traz no próprio nome a natureza da flor.