O livro no mundo digital
Artigo publicado no Jornal O Povo, Opinião, página 7
Sábado, 25 de Outubro de 2008 – Fortaleza, Ceará, Brasil
A feira da indústria do livro realizada em Frankfurt, na Alemanha, é considerada a maior do mundo em venda de bestsellers, comércio de licenças, softwares para gráficas, equipamentos e gôndolas para lojas de livros. Na sua edição 2008, que aconteceu de 15 a 19 deste mês de outubro, a maior novidade apresentada foi um pequeno aparelho de leitura com capacidade para armazenar milhares de livros. O “e-readers” exibido pela indústria eletrônica holandesa, japonesa e estadunidense é uma nova mídia que vem reforçar o valor do livro nesses tempos em que a conectividade parece mais importante do que o seu para quê.
Os meios eletrônicos de armazenamento e de transmissão de dados e informações são fundamentais para dar importância ao livro, como instrumento que contribui para a definição do parâmetro humano e encorajamento da nossa capacidade de irmos fundo dentro de nós mesmos, de nos educar para a vida. A Internet passou a ser uma grande aliada do livro à medida que promoveu a fixação da oralidade telefônica moderna e abriu novos canais de comercialização. Com ela a escrita voltou a fazer parte do cotidiano e os leitores não ficaram reféns de um mercado livreiro cada vez mais focado em títulos efêmeros.
O livro tem muito a ganhar com a evolução do mundo digital. Não é à toa que ele aparece como o produto mais vendido do comércio eletrônico, conforme pesquisa da Nielsen/NetRating aplicada em 48 países e publicada no início deste ano. Independentemente de percentuais de venda, o Brasil aparece entre os cinco maiores consumidores de livros pela Internet nessa verificação de compras online. Esse, sim, é o fenômeno que precisa ser observado em um País com um histórico de deliberada privação de leitura. Se, como diz com sabedoria Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, “livro novo é o que ainda não foi lido”, precisamos mais do que nunca dos recursos eletrônicos para que os novos “não-leitores” descubram a magia da leitura nem que seja na tela de um celular, de um palm ou de um videogame portátil.
Com o resultado da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, lançada pelo Instituto Pró-livro em 28 de maio passado, reforcei a minha convicção de que a leitura nasce fora do livro. A presença expressiva de publicações religiosas, esotéricas e de auto-ajuda na resposta dos leitores é uma prova de que o crescimento do mercado da fé influencia a busca de Deus nos livros. Isso significa dizer que políticas que reforcem o poder do livro de levar até mesmo o mais desencantado dos indivíduos a voltar a imaginar, como a de combinação da universalização da banda larga com o fortalecimento do papel estratégico das bibliotecas, postas nas metas do governo Cid Gomes, são de grande relevância para construção cidadã brasileira.