CHAMADA DE CAPA
FAC-SÍMILE
| SAMBA-LÊ-LÊ | Lançamento do primeiro álbum infantil da carreira do compositor e autor Flávio Paiva completa 20 anos
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Cantar pode ser uma brincadeira. Acreditando no poder da arte para a formação pessoal e cidadã de crianças, o escritor, cronista do O POVO e compositor cearense Flávio Paiva vem produzindo obras voltadas ao público infantil. Já se vão 45 canções compostas por ele que dialogam com o lúdico e educativo, além de livros também para este público. O marco inicial dessa ampla produção foi o disco “Samba-lê-lê”, projeto pensado há 20 anos por Flávio para marcar a chegada do primeiro filho dele e de Andréa Pinheiro, Lucas, nascido em maio daquele ano. Com um time que contava, entre outros, com a cantora Olga Ribeiro, o maestro Erwin Schrader, o músico Tarcísio Sardinha e um especial coro infantil, a obra foi apresentada ao público oficialmente em um show na Praça Verde do Dragão do Mar em 10 de outubro de 1999.
“Quando o Lucas tava pra chegar, deu vontade de fazer um disco para ele ouvir em primeira mão. Ele ouviu nascendo, o médico entrou tocando as músicas”, inicia Flávio. Com 10 faixas, “Samba-lê-lê” parte de experiências do artista. “As músicas são em cima do que consegui buscar na memória de elementos do que foi minha infância”, explica. “Amarelinha”, que abre a obra, ensina: “Começa riscando o chão / pode ser com giz branquinho / pode ser com preto carvão”. “Festa em Independência” rememora uma das grandes diversões na cidade-natal de Flávio: “Dia de chuva, a cidade em festa / A meninada toda sai pra rua a se banhar”. Sobre o processo, o artista metaforiza: “É o que eu chamo de paternidade criadora. Mexe muito, essa coisa de escutar o som deles na barriga da mãe. Tem várias músicas feitas nessa ambiência placentária”, afirma, referenciando também o segundo filho, Artur, que ganhou no nascimento o disco “Bamba-la-lão” (2001) – os dois discos foram unidos no projeto “Flor de Maravilha”, que junta música e literatura.
O que era pessoal começou a repercutir e chamar a atenção e, assim, parceiros como o North Shopping, o colégio Canarinho e a loja Cuca Legal foram se somando nos apoios a tiragens que somaram 4 mil exemplares do disco. “Assim, foi concretizado o show que lotou a Praça Verde na época, no primeiro mês de outubro do então recém-inaugurado Dragão do Mar, que fora aberto em abril daquele ano.
Erwin Schrader, hoje maestro do coral da Universidade Federal do Ceará, à época trabalhava em corais infantis de escolas como Nossa Senhora das Graças e Juvenal de Carvalho e, por isso, foi convidado para comandar o coro infantil do “Samba lê-lê”, composto por filhos de amigos de Flávio que tinham de 3 a 10 anos, em média. “Conhecendo esse trabalho, ele perguntou se a gente podia fazer. Lembro que era uma festa”, rememora Erwin. “O maestro, com o carisma que tem, teve todo um jeito de fazer, construiu uma coisa quase impossível que foi conseguir que os meninos cantassem bonitinhos, afinados”, conta Flávio. “No show, os meninos do coro que estavam no palco antes estavam brincando, subiram suados. Quando não estavam cantando, faziam algum tipo de onda no palco”, avança.
Os destinos dos “cantores” foram os mais diversos: de carreira na publicidade à psicologia, mas também na música. É o caso da cantora e compositora cearense Ilya, sobrinha de Flávio. “Ele reuniu as crianças para brincar de fazer disco, e a coisa era séria. Tivemos preparação vocal, noções de tom. Foi a minha primeira experiência com algo do tipo. Lembro do estúdio, da sensação da sala com isolamento acústico, o revestimento de madeira e o microfone posicionado no alto. Com certeza ali foi depositada a semente que hoje aflora”, atesta a artista, que tinha 9 anos na época.
O processo, explica o maestro, uniu ludicidade e dedicação “A gente não trabalhou na perspectiva de uma voz primorosa. Não tinha problema desafinar, porque faz parte dessa brincadeira da criança. Tinha uma preparação voltada para crianças. No disco, elas afinaram, mas aqui e acolá tem uma escorregada de alguém, acompanhada de uma risada. É a espontaneidade”, aponta Erwin. Hoje sociólogo e pesquisador, Benjamin Lucas participou da experiência aos 10 anos. “A principal lembrança é que era muito divertido. O show foi impactante, eu era um moleque. Lembro com muito carinho das duas experiências (Benjamin participou do “Samba-lê-lê” e do “Bamba-la-lão”, assim como a maioria do time). Acho que eventualmente ainda sei algumas músicas de cor, tantos anos depois. Se botar pra tocar, acompanho facinho a letra”, afirma.
Nomes como os de Cristiano Pinho, Márcio Rezende, Ricardo Leite, Hoto Júnior e Adelson Viana compuseram a banda. Além deles, vale destacar Dim Brinquedim, responsável pelas ilustrações do álbum, e, no coral infantil, a também hoje cantora e compositora Bárbara Sena. “Ambos os discos tem repertório muito acessível para crianças. São canções prazerosas. É uma grande brincadeira cantar com as palavras que o Flávio utiliza. Tem um jogo no universo da criança que, para o adulto, também faz sentido. A gente usou uma música (“Festa em Independência”) no espetáculo “d’Água”, do Coral da UFC”, ilustra Erwin. “Tudo que produzi para criança, procurei os melhores artistas. Existe uma compreensão que, como criança é um ser vibrante, se você faz qualquer coisa num piano ou violão a criança já tá dançando. ‘Ela gostou’. Gostou, mas não está se formando nas nuances, se formando esteticamente, criando uma capacidade de enxergar como as coisas são diversas, mas podem conversar. É um conceito estético que se transforma num conceito ético”, reforça Flávio.
Samba-lê-lê
As músicas estão disponíveis no disco “Flor de Maravilha”, que reúne “Samba-lê-lê” e “Bamba-la-lão”, nas plataformas Spotify, Deezer e iTunes
Mais informações sobre a produção podem ser encontradas em www.flaviopaiva.com.br/