A rigor, o campeonato brasileiro de futebol, o Brasileirão, é composto pelos vinte clubes mais destacados do país. Ano a ano, para chegar a esse patamar de distinção, existem três etapas de qualificação, as séries B, C e D, cada qual constituída também por vinte clubes. A grande aspiração das torcidas e dos dirigentes das equipes que disputam qualquer dessas três fases de classificação é chegar ao topo, à série A, onde os times têm mais prestígio e são mais valorizados.
A subida desses degraus gera uma disputa especial entre os primeiros classificados, para ver quem chega em primeiro lugar. Essa colocação é comemorada com direito a taça de campeão. E passar de fase é mesmo motivo para festejar, como aconteceu na sexta-feira passada, 29, quando Chapecoense, América mineiro, Juventude e Cuiabá, curiosamente todos de camisas verdes, entraram no rol dos participantes do Brasileirão.
O que tornou essa competição classificatória mais atraente foi o fato inusitado de que os dois candidatos à posição de primeiros colocados da série B chegaram à última rodada empatados em número de pontos ganhos, na quantidade de vitórias e no saldo de gols entre tentos marcados e sofridos. Apenas a circunstância de ter feito mais gols no certame do que o adversário privilegiava o América mineiro.
Em resumo, mais do que ganhar para ficar na primeira colocação do grupo de acesso, era fundamental que os dois assegurassem pelo menos um gol a mais do que o outro. O mais extraordinário nessa confrontação foi que essa final não ocorreu entre os finalistas, mas em jogos separados com outras equipes e em estádios distantes, um em Minas Gerais e o outro em Santa Catarina.
A distância de mil e quinhentos quilômetros entre os estádios Independência, de Belo Horizonte, e Índio Condá, de Chapecó, levou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a confeccionar duas taças de Campeão da Série B, sabendo que uma delas iria para a reciclagem após o final das partidas, que aconteceram no mesmo horário.
Embora com tudo acertado e sincronizado para essas duas partidas determinantes, o futebol tem suas peculiaridades em campo, e um dos finalistas, a Chapecoense, contou com dois minutos a mais de acréscimos ao final do segundo tempo com relação ao América mineiro: um teve seis, e o outro, quatro minutos de acréscimo.
Até o final do tempo regulamentar, América mineiro e Chapecoense seguiam cravando mais um empate, visto que ambos ganhavam de 2 x 1, placar que dava a taça ao time de Minas. Pois bem, quando tudo caminhava para a definição final, a partida do América terminou e a da Chapecoense continuou um pouquinho mais. Mesmo tendo vencido e, praticamente sagrados campeões, jogadores e comissão técnica americanas correram aflitos para assistir em celulares os movimentos finais do adversário.
E o último lance do adversário foi um pênalti a seu favor. A expectativa ganhou pressão dos dois lados: faltava um único chute de bola parada para decidir qual a equipe que encabeçaria a lista dos quatro novos participantes do Brasileirão. Foi quando o centroavante baiano Anselmo Ramon, que tinha feito o primeiro gol da Chape e oferecido o passe para o segundo, deu um toque de ‘cavadinha’, colocando com sublime malícia a bola nas redes e garantindo, assim, o título de campeão da Segundona à Chapecoense. Coisas do futebol.