Há 110 anos o município de Juazeiro do Padre Cícero conquistou sua emancipação do Crato, e, no esteio das comemorações, o professor Nabucodonosor Alves Feitosa, da rede pública estadual de ensino fundamental e médio do Crato, publica o livro “Alencar Peixoto e a independência de Juazeiro do Norte” (Expressão, 2021), no qual procura dar mais peso ao nome desse padre e ativista cratense no episódio de elevação do distrito de ‘Joaseiro’ à condição de cidade.
É muito bom ver professores de História inquietos e procurando contribuir para abrir novas janelas na leitura dos acontecimentos passados. Em um tempo de nomes expressivos como Padre Cícero (1844 – 1934), Floro Bartolomeu (1876 – 1926) e José Marrocos (1842 – 1910), o autor acha que as referências a Alencar Peixoto (1871 – 1957), estão subdimensionadas porque ele praticamente só tem destaque como fundador do jornal O Rebate, semanário imperioso para a autonomia juazeirense.
Nabucodonosor argumenta que, além de intelectual que falava francês, latim e grego, Alencar Peixoto “sabia conduzir as massas” e ainda participava como apoiador financeiro do movimento de independência. Quando se fala dos heróis dessa conquista, a participação direta de Peixoto nos atos mais relevantes do percurso emancipacionista recomendaria mais destaque para ele do que a aparição no rol de apoiadores e como nome de uma das ruas da cidade.
O professor, que é natural de Fortaleza, tem o cuidado de não subtrair nada do mérito do Padre Cícero nesse feito, mas acha desproporcional o lugar ocupado por Alencar Peixoto, que, assim como Cícero Romão, era um padre de origem cratense. Afirma que, no cenário de rivalidades entre Crato e Juazeiro, o nome de Peixoto era tão forte quanto o de Cícero.
No livro, o autor afirma que apenas tenta interpretar melhor a atuação e o papel de Alencar Peixoto, que, segundo ele, foi uma das lideranças mais marcantes de ‘Joaseiro’ no período de 1907 a 1911. O que distinguia o padre e o jornalista era a profusão de textos e discursos inflamados que ele levava aos altares e aos palanques.
Enquanto o Correio do Cariry, do coronel Antonio Luiz, chefe político do Crato, detratava Juazeiro como lugar de marginais e dizia que naquelas condições não havia como aquele povoado ser autônomo, O Rebate mostrava os avanços demográficos e o rápido crescimento econômico do povoado de ‘Joaseiro’ e, claro, a liderança do Padre Cícero.
A ousadia de Alencar Peixoto era tamanha que O Rebate chegou a publicar editoriais assinando “O Povo de Joaseiro”. Fez isso convocando reunião (03/07/1910) de convergência de aspirações e indignações e declarando a independência (04/09/1910) por estar cansado dos “mandos e desmandos” do coronel adversário.
O livro traz textos comentados do jornal O Rebate e faz uma rápida reconstituição histórica com as realizações de Alencar Peixoto, incluindo a fundação do Gymnasio Cratense, do jornal e de Juazeiro do Norte. Conta que Peixoto era um irrequieto que passou pelas paróquias de Saboeiro, Arneiroz e Solonópole, de onde saiu corrido por ter descontentado os políticos locais com sua pregação cristã.
Conquistada a emancipação e tendo o Padre Cícero assumido a prefeitura de Juazeiro, Alencar Peixoto fica irritado, muda-se para Fortaleza e, depois, para Sena Madureira, no Acre. Escreve o livro “Joaseiro do Cariry”, baixando o malho no Padim Ciço, e passa a perambular por paróquias de Pernambuco, Minas Gerais e Espírito Santo, encerrando a vida na cidade goiana de Rubiabata.