As movimentações em torno do lançamento do meu novo livro de literatura e música para crianças, “Que noite, Torito!” (Telos Editora, 2022), com ilustrações do artista colombiano Canizales, cantigas interpretadas pela cantora uruguaia Luana Baptista e outros tantos vínculos, me inspiraram a buscar razões que pudessem explicar o que tudo isso significa para a minha vida e o meu viver.

Lembrei-me de que já havia feito uma reflexão assim para o livro “Código Aberto – Autobiografia Colaborativa” (Cortez Editora, 2019) e, ao revisitar o capítulo em que proponho o conceito de Vida Suplementar, como algo adicional ao melhor aproveitamento da existência (pp. 128 a 136), extraí as seguintes passagens que dão respostas bem próximas das minhas indagações:

Identifiquei nas brincadeiras de infância que precisava de algo mais que simplesmente existir. Não sabia que se chamava imaginação aquela forma de me transportar pelo mundo por meio de representações, aproximando-me de mim mesmo e das possibilidades oferecidas pelo multiverso cultural. Notei que muitos adultos faziam isso quando brincavam nos autos populares e que pessoas engajadas em ações de emancipação social moviam-se por alguma coisa que não era apenas sobreviver.

Procurei entender em que tipo de realidade acontecia esse campo de eventos especiais para me integrar a ele. Descobri que não se tratava simplesmente de uma realidade complementar porque ela não totalizava nada; sua essência estava na necessidade do preenchimento da falta que a felicidade do outro faz em nós, em uma sociedade onde os privilégios são mais importantes do que os direitos.

Foi assim que cheguei ao conceito de Realidade Suplementar, o que facilita o meu posicionamento com relação à realidade ordinária e, consequentemente, a compatibilização do que sou com o que procuro ser. Lendo Winnicott (1896 – 1971), aprendi a me fazer uma pergunta chave: ”Que pedaço de mim mesmo posso dar a vocês, e como posso lhes dar um pedaço sem parecer que perco a totalidade? ”

Combinar a operacionalização da vida (Realidade) com maneiras de honrar o viver (Realidade Suplementar) me instiga a trabalhar com o que acredito e da forma que acredito. Com isso, às vezes até sou marginalizado, mas não fico refém. Sendo essa uma escolha que fiz, preciso estar sempre preparado para entender seus alcances e limitações.

Tenho dito que na arte e na literatura sentir é melhor do que entender. Se o que escrevo e componho serve para alguém sentir algo, nem que seja discordando, já estou satisfeito. Identifico-me com as figuras do “amador”, do escritor palestino Edward W. Said (1935 – 2003), e do “artesão”, do cientista político estadunidense Charles Wright Mills (1916 – 1962), referências transbordantes na satisfação de produzir livremente e nos hábitos autorreflexivos aplicados ao cotidiano.

O que para mim justifica pensar e atuar na Realidade Suplementar, como agregação de sentido à existência, é a autonomia de atuação de mulheres e homens em conformidade com o discernimento próprio de suas naturezas e crenças, assegurando que o destino individual e comum esteja desatrelado do senso de que a felicidade pode ser comprada ou vendida.

Fonte
RIVISTA Nº246

Onde ENCONTRAR o TORITO em português e em espanhol???
— Amazon (pela internet)
— Nas melhores livrarias do Brasil
— Em Fortaleza, na Livraria Leitura Shopping Rio Mar Papicu – Delivery: (85) 9.9848-7244 (WhatsApp).

Onde OUVIR as músicas do TORITO???
— Spotify
— Deezer
— Apple Music
— e demais plataformas de streaming de música