A escola pensa a América Latina
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.4
Quarta-feira, 14 de outubro de 2015 – Fortaleza, Ceará, Brasil

Artigo em PDF

FAC-SÍMILE

op_aescolapensamericalatina

Em meio ao caos político e à crise econômica que atingem o Brasil, é muito bom ver estudantes tendo a oportunidade de se distanciar um pouco dos rastilhos odientos acesos na refrega pelo controle da estrutura de poder no país para se aproximar de temas relevantes como a menosprezada realidade latino-americana, em debates marcados pelo saudável exercício do contraditório.

Os trabalhos apresentados no VI Encontro de Filosofia da Juventude, realizado no colégio Sapiens na semana passada (6 a 8/10), foram desenvolvidos por estudantes com fontes de informações, orientações e percepções políticas diferentes, o que enriqueceu substancial e democraticamente esse debate, que contou ainda com a participação de turmas dos colégios Santa Cecília, Espaço Vida, Liceu de Messejana e Diocesano de Teresina.

O tema do bolivarianismo, por exemplo, exposto nas rinhas das correntes ideológicas de forma tão caricaturesca, foi abordado com leveza e desenvoltura. A equipe que cuidou desse assunto informou que em sua pesquisa havia descoberto que grande parte da população brasileira não tem a menor ideia do que significa o temo “bolivariano”, portanto, o que estava em debate era mesmo “para ser debatido”.

Essa sinceridade pura de quem está com a mente livre para pensar e dizer as coisas acaba abrindo janelas importantes, como essa que sugere a necessidade premente, não só no ambiente escolar, mas em toda a sociedade, de se conhecer melhor o que está por trás de um conceito tão determinante para o mundo atual como o “bolivarianismo”.

Simón Bolívar (1783 – 1830) não foi apenas o libertador do que hoje é a Colômbia, a Venezuela, o Peru, a Bolívia e o Equador. Ele foi muito mais, e isso os participantes do Fórum colocaram bem, ao mencionar seus esforços para, após as vitórias militares contra os espanhóis, organizar os novos Estados em repúblicas democráticas de povos integrantes das mesmas condições históricas e unificados por uma mesma língua e religião.

A tarefa de Bolívar foi extenuante, considerando a dificuldade dos novos líderes na montagem dos governos, tanto pelo desconhecimento do que isso significava realmente quanto pelas imitações de abusos e, mais tenso ainda, pela entrada dos Estados Unidos na disputa pelos territórios emancipados. O Libertador costumava dizer que os norte-americanos queriam abarrotar a América de miséria em nome da liberdade.

É isso mesmo, a sanha expansionista e hegemônica estadunidense chega a confundir muita gente com relação à própria palavra América. Esse nome de continente, conferido em homenagem a Américo Vespúcio (1454 – 1512) tem sido reivindicado pelos EUA, sem que o navegador florentino tenha sequer pisado naquele pedaço de chão.

Desse encontro de Filosofia, coordenado pelo irrequieto professor Marcelo Amoreira, fica o alerta de que, dentre outros temas latino-americanos, precisamos entender Bolívar como uma figura que quis chegar antes ao mundo multipolar dos tempos atuais, criando uma integração de segurança, economia e arcabouço jurídico nas ex-colônias para que atuassem em bloco no diálogo global.