Apolônio Melônio e o Boi da Floresta
Artigo publicado no Jornal Diário do Nordeste, Caderno 3, página 3
Sábado, 24 de Junho de 2006 – Fortaleza, Ceará, Brasil
Havia mudado a data de ida aos lençóis maranhenses para poder estar em São Luís no sábado, com a intenção de ver a apresentação do Papete na praça Maria Aragão. Deu tudo certo. Depois de um refrescante banho nas correntezas do rio Una e de visitar os terreiros dos bois de Morros, Icatu e Axixá, chegamos a tempo para nos deliciar com a animada e bonita festa que é sempre um espetáculo do Papete. Na multidão, dançamos em quadrilhas improvisadas e entoamos um grande coro místico e mestiço a antológica “Boi da Lua”, de César Teixeira: “Meu São João / eu vim pagar a promessa / de trazer esse boizinho / para alegrar sua festa / Olhos de papel de seda / com uma estrela na testa”.
O arraial já estava bom demais, quando ganhou novo brilho ao ser anunciada a entrada do Boi de Apolônio. Saí procurando por ele entre os boieiros. Perguntei a um, perguntei a outro, até me deparar com a lenda: boina preta e ralo bigode de pêlos brancos, acentuando a face negro-brilhante e serena desse renovado brincante de 86 anos. Por cima da camisa róseo, de botões também cor-de-rosa, Apolônio Melônio veste um colete preto, com desenhos e bordados de multicoloridos arranjos florais, tendo ao centro a representação da pomba do Espírito Santo, numa explícita manifestação do sentido cultural e religioso da festa.
Enquanto os pandeirões eram afinados aos murros e com esfregações circulares de palmas de mão nas fogueiras improvisadas pelas coxias da rua que passa por trás da praça, a roda de boi ia se formando para o início do auto. Apolônio observa calmamente cada detalhe do som das matracas, dos tambores-onça e dos maracás. Observa com tranquilidade o viço dos baiantes e percebe que é chegado o momento do guarnicê. Diz-se que um boi está guarnecido quando ele entra no ritmo, quando está preparado, quando aquece a praça. Apolônio apita e puxa a toada: “Se ordem é ordem / todos têm que obedecer / a turma de São João Batista / agora eu vou guarnicê / No sotaque da matraca / vi o pandeirão bater / reúne, reúne e guarnece / é assim que o santo que ver”.
O que eu tinha escutado falar e comprovei assistindo a apresentação do Boi da Floresta, que passou a ser o Boi de Apolônio, é que essa gente se apresenta na praça como se estivesse em casa, dramatizando para familiares e vizinhos.
O batuque é bom. Melodias e coreografias…
Máscaras dos caretas/papangus, com grandes mantos nas costas com imagens de santos
Caboclos-de-pena, com perneiras e braçadeiras nos tornozelos e pulsos
O boizinho (com estampa da pomba também e dizeres…), com a barra pelo chão, cobrindo as pernas do miolo.
Negro Chico, vaqueiros, índios, burrinha, onça pintada e as mutucas, que a exemplo das moscas do mato, têm a função de picar os brincantes para garantir a alegria da festa.
E a Catirina, com …