Estava uma saudade danada da filha Joema, que estuda em Buenos Aires. Foi, então, que o casal Augusto e Carmen pegou uma moto tipo crossover, com rodas pequenas, mas de características estradeiras, e suspensão para dar mais conforto na viagem, e partiu de Fortaleza rumo às plagas argentinas. Foram 11.500 quilômetros de ida e volta, em 30 dias de aventuras.

Diferentemente de carro ou avião, uma viagem dessas se torna incomparável, pela possibilidade de interagir com a paisagem e de sentir o cheiro, o vento, calores e frios dos lugares por onde passam, sem contar com os tantos contatos feitos com as pessoas pelo caminho. Calculando que havia a expectativa de ver Joema, só tiveram que ir mais rápido na ida, deixando o tempo sobrante para a volta.

E tocaram as duas rodas por estradas que cruzaram Floriano/PI, Barreiras/BA, Aurora do Tocantins/TO, Alto Paraíso/GO, Uberaba/MG, Tibagi/PR, Santana do Livramento/RS e Colônia do Sacramento/Uruguai até o encontro com a filha, cujo nome foi inspirado na canção “Das terras de Benvirá” (Geraldo Vandré): “Joema dos olhos claros / Bem verdes da cor do mar / Me dava tanta alegria / Que eu não preciso sonhar”.

Os dias portenhos foram totalmente conduzidos por Joema, enquanto eles experimentavam o gosto de mãe e pai anfitrionados pela filha. Já podiam voltar, em um retorno com mais paradas, que se deram em Montevidéu/Uruguai, São José do Norte/RS, Piratuba/SC, Florianópolis/SC, Curitiba/PR e Sorocaba/SP, onde aproveitaram para visitar o Manga, motociclista e velho companheiro de grandes viagens.

Com mais calma, voltaram a encarar mais estradas ruins do que boas e a enfrentar os deslocamentos de ar provocados pelos caminhões, tendo a oportunidade de reencontrar familiares que moram no Paraná, almoçar na serra de São Roque/SP, passar por Aparecida/SP, subir a serra da Mantiqueira para curtir Cachoeira Paulista/SP e apreciar Caxambu/MG, Diamantina/MG, Guanambi/BA, Senhor do Bonfim/BA e Petrolina/PE no regresso a Fortaleza.

Augusto Rocha no portal de entrada de Inhotim, museu a céu aberto localizado em Brumadinho/MG. Foto: Carmen Alice.

Augusto Rocha é um escritor focado em viagens feitas em motocicletas. Já publicou cinco livros com relatos detalhados e curiosos de suas andanças com amigos pelo mundo: “Eu vou no bombo” (2010), “Sagandina” (2012), “Carregadores de Melancia” (2015), “Expiroá” (2017) e “Zonda” (2021). Transitou, então, por muitos lugares de diferentes países, mas a cada novo percurso feito depara sempre com novidades surpreendentes.

Nessa viagem, em que o principal objetivo era estar perto de Joema, mas nem por isso ele e Carmen deixaram de usufruir das belezas do caminho, alguns lugares foram mais inesperados que outros. Pirituba/SC, com seu enorme parque de águas termais e uma estrutura urbana que lembrou Gramado/RS aos viajantes, foi uma destas paragens.

O banho nas águas transparentes do rio Azuis, que sai da terra e retorna ao subsolo em menos de 150 metros de extensão, valeu a parada em Aurora do Tocantins/TO, onde é servida a comida regional do cerrado. Mas foi em Guanambi/BA, que Augusto já conhecia, que ele ficou impressionado com o padrão de qualidade de vida suportado por uma economia impulsionada pelo Complexo Eólico do Alto Sertão.

Perguntei ao Augusto o que as estradas têm a dizer sobre a vida, e ele me respondeu com o que conseguiu lembrar de uma frase que ouviu atentamente de um recepcionista de hotel em Guanambi: “A vida é uma viagem permanente. Mesmo para quem a segue devagar, em algum momento tudo fica mais rápido”. Enquanto ele me contava isso, como pano de fundo da nossa entrevista eu escutava mentalmente outros versos de Benvirá: “Basta me lembrar agora / Das coisas que deixei lá / Joema sempre esperando / Na praia do Grande Mar”.

Fonte
https://mais.opovo.com.br/colunistas/flavio-paiva/2023/06/05/augusto-e-carmen-foram-ver-joema.html