Ayla Maria em fatos e fotos
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.4
Quarta-feira, 17 de setembro de 2014 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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Faltava uma publicação que contasse de modo sistemático a história da cantora e atriz Ayla Maria. Agora não falta mais. Com o lançamento do livro “Ayla Maria – a voz orgulho do Ceará”, de Arrais Maia e Assis Almeida (Premius, Fortaleza, 2014), quem quiser conferir as grandes conquistas locais e nacionais dessa querida artista cearense, já pode contar com esse facilitador da correlação entre os acontecimentos e a pessoa da cantora. Os autores optaram por algo bem leve, com muitas imagens, pouco texto e reproduções de documentos que dão provas da trajetória da artista.

O trabalho faz uma retrospectiva da vida e da arte de Ayla, com fatos e fotos que não deixam sua história amarrada ao passado. Ela começou a participar de programas de rádio aos dez anos de idade, depois de aprovada em testes com ninguém menos do que o pianista Luiz Assunção (1902 – 1987) e o maestro Mozart Brandão (1921 – 2006). Fez isso, como condição para ser contratada tanto na Rádio Iracema quanto na Ceará Rádio Clube, emissora dos Diários Associados, com seus auditórios sempre lotados de fãs.

Casada, então, com o apresentador Armando Vasconcelos (1926 – 2011), pioneiro nos programas de auditório da televisão cearense, Ayla participou dos primeiros momentos da primeira emissora de televisão do nosso Estado, a TV Ceará, Canal 2, em uma fase inicial, do tudo ao vivo, que contou com nomes como os de Emiliano Queiróz e Renato Aragão. Ela começou fazendo um show musical aos domingos.

Poderosa, chegou a cantar no programa do Irapuan Lima (1927 – 2002) com acompanhamento de Roberto Carlos ao violão. Trabalhou em rádio, televisão, teatro e fez shows pelo interior do Ceará e em várias capitais brasileiras, com destaque para suas apresentações no Maracanãzinho e na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A passagem de Ayla Maria pelo Rio foi referendada pela revista Manchete: “No espaço de alguns dias, o Rio foi tomado por uma jovem cantora do Ceará, chamada Ayla Maria” (1959).

Mesmo tendo se apresentado por diversas vezes em outros estados brasileiros, Ayla nunca saiu para tentar carreira fora do Ceará. É uma artista essencialmente cearense, que construiu a partir de Fortaleza uma vida profissional de sucesso, brilhando por décadas como cantora, apresentadora de tevê e atriz de teatro adulto e infantil.

Atuou com destaque na Comédia Cearense, de Haroldo Serra, com a qual estreou na década de 1960, participando da peça “Rosa do Lagamar”, do escritor e teatrólogo Eduardo Campos (1923 – 2007), com direção de B. de Paiva. Valorizando sempre o autor cearense, Ayla Maria participou também da peça “Demônio Familiar”, do escritor José de Alencar (1829 – 1877), e de “O casamento de Peraldina”, do dramaturgo Carlos Câmara (1881 – 1939)

Em “A valsa proibida”, opereta de Paurilo Barroso (1894 – 1968), ela dividiu o papel principal com o maestro e tenor Orlando Leite (1926 – 2011), peça que foi o maior sucesso do teatro musical cearense, com repercussão nacional, inclusive na famosa revista “O Cruzeiro” (1965). Na segunda versão de “A valsa proibida” (1984), Ayla já passa a atuar ao lado do marido Raimundo Arrais.

Foram muitas as peças infantis que contaram com a interpretação de Ayla Maria: “A bruxinha que era boa”, da escritora mineira Maria Clara Machado (1921 – 2001), “O planeta das crianças alegres”, do escritor cearense Ciro Colares (1923 – 2002) e “A menina sem nome”, do dramaturgo paulista Guilherme Figueiredo (1915 – 1997), integram um expressivo repertório de montagens, que inclui ainda clássicos como Chapeuzinho Vermelho, com adaptação de Haroldo Serra, e Cinderela, adaptada pelo antropólogo Geraldo Markan (1929 – 2000), o saudoso Gegê.

Em uma enquete promovida pela Revista do Rádio, nos anos 1960, para a escolha da Rainha da TV Brasileira, Ayla Maria ficou à frente de Emilinha Borba, Rosemary, Ângela Maria, Wanderléa e Dalva de Oliveira, perdendo apenas para Ellis Regina. Está tudo nos fatos e fotos apresentados no livro. “Para escrever sobre esta formidável cantora cearense, as facilidades foram as mais diversas, principalmente pelo que se encontrou nos arquivos implacáveis de seu mais ardoroso fã e amigo: Célio Cury e família. Tiveram importância similar as narrativas da própria cantora em entrevistas para o rádio e a televisão, além da vasta documentação comprobatória de suas conquistas e de seu trabalho” (p. 18), contam os autores.

É curiosa a história do álbum de figurinhas. O que hoje virou febre no mundo do futebol teve sua versão de grande sucesso na carreira de Ayla. A Ibram, fábrica de refrigerantes (laranjada, limonada e guaraná) fez uma grande jogada de marketing com o “Álbum do Fan de Ayla Maria” (1960). A empresa patrocinou um disco da cantora interpretando a famosa canção afrocubana “Babalu”, de Marguerita Lecuona (1910 – 1981), gravado pela Columbia (RJ), e quem completava o álbum ganhava o disco de brinde. E o esquema era muito simples: bastava juntar uma quantidade determinada de tampinhas dos refrigerantes Ibram e trocar pelo disco. Esse tipo de história ilustra bem a força de Ayla.