Todo lugar que nasce de uma lenda tende a tornar-se encantador. Com pouco mais de oito mil habitantes, a cidade de Bananeiras, localizada na região do Brejo da serra da Borborema paraibana, surge na fabulação colonial antes mesmo dos decretos que lhe deram ordem político-administrativa.

Elevada à condição de vila em 1833, Bananeiras tem seu marco fundante em uma capela que deu origem à atual igreja matriz (1861); uma história ora baseada em fatos, ora fantasiosa, assim como a própria existência do doador do terreno para a construção do templo.

O legendário Gregório da Costa Soares teria sido um pioneiro cearense de ascendência portuguesa, que ficou popularmente conhecido como Gregório Moreno. Após ser aprisionado pelos povos originários da região, foi salvo por uma guerreira tapuia com quem fugiu para a parte plana da serra, onde foi criada a Vila de Moreno, hoje Solânea.

No livro “Gente do passado, fatos do presente”, o escritor, político e memorialista Ramalho Leite, presidente da Academia Paraibana de Letras, conta que “A aflição do prisioneiro o fez rogar à interseção da Virgem do Livramento, prometendo que, caso escapasse com vida, mandaria erguer um templo no local do seu tormento. Foi o que fez: casou com a índia e doou a terra para a Igreja” (pp. 157 e 158).

Desse misto de lenda com fatos, nasceu Bananeiras, suas ladeiras, seu casario construído no tempo dos barões do café, sua gente acolhedora e de conversa boa, seus bons restaurantes, suas boas pousadas, seus condomínios de luxo e a descoberta do turismo nas últimas décadas.

A formação e transformação socioespacial do município de Bananeiras tem seus vícios políticos e eleitorais, mas seu espírito lendário parece ter salvaguardado a real importância do lugar e da relação urbano-rural, com seus 21.220 habitantes, em particularidades locais integradas aos múltiplos circuitos extraterritoriais.

A pousada de charme Estação Bananeiras é uma das atrações da região do Brejo paraibano. https://estacaobananeiras.com.br/  

O contato das pessoas com a natureza e o grau de 03proximidade de umas com as outras amalgama conteúdos culturais e ecoturismo de maneira a tornar essa paisagem serrana marcada por ruralidades de alagados e por um satisfatório gradiente de consumo.

Entre atrações como a cachoeira do Roncador, os engenhos de cana-de-açúcar remanescentes, os túneis da Viração e da Samambaia (este com uma inusitada curva subterrânea) e o Lajedo Preto, destacam-se a cachaçaria do engenho Goiamunduba e a pousada de charme Estação Bananeiras.

O Goiamunduba é de 1852 e começou a fabricar aguardente de cana em 1854, passando a engarrafá-la para venda em 1877, sendo o único engenho que segue em atividade no município, com a marca Rainha, produzida artesanalmente com cana cortada crua e preparada sem adição de produtos químicos.

Com design requintado, acomodações e cozinha de qualidade, a pousada Estação Bananeiras funciona desde 2016 em um ponto emblemático da cidade. Foi ali onde o trem chegou a Bananeiras em 1925, com o objetivo de levar o café da região para exportar pelo porto de Cabedelo.

Essa história é pitoresca. Ramalho Leite relata que “Quando o trem atravessou o túnel e parou em Bananeiras, não havia mais café para ser transportado” (p.100). É que quando a estação foi inaugurada ainda faltava a construção de dois túneis, e isso levou mais de uma década.

Havia dado uma praga nas plantações de café, e Bananeiras saiu migrando para outras atividades, como a produção de rapadura, agave, cachaça, tilápia e, claro, muita banana, até encontrar-se no turismo. Com centenas de leitos de hospedagem e muitos restaurantes bons, a cidade do “Caminho do frio” esquenta no São João com animadas festas de pé-de-serra.