Estou empenhado em escrever sobre o nome do lugar onde eu nasci. É empolgante perceber motivos, sentimentos e intenções que levaram os nossos antepassados a chamar de Independência o povoado de Pelo Sinal. Isso em meados do século XIX, quando a parte desse território que integra a bacia do rio Poti, no sertão oeste cearense, ainda pertencia ao Piauí. Misto de ficção histórica e de micro-história, esse livro resultará de um prazeroso trabalho de pesquisa bibliográfica, expedição a lugares-chave e reflexões a respeito do que existe de novo em algo que pode parecer antigo.
Mais do que uma herança, o nome de um lugar é uma mensagem e uma expectativa de destino. A resposta de para onde vamos muitas vezes está no próprio nome da nossa localidade. A memória funciona como um velho motor que, quando ligado, libera a energia que nos move rumo ao que somos. Mais ainda, nos impulsiona a compreender que Independência não é apenas um lugar, mas uma ideia substancial do quanto tudo tem um fim, e que este é o segredo das mudanças e da permanência.
Não há como avançarmos socialmente sem elevarmos esse espírito de renovação, sem nos orgulharmos dos feitos do nosso povo e sem saber os motivos e os caminhos que nos fizeram chegar até aqui. O sentimento de que temos valor nos dá força para seguirmos sonhando e lutando por mudanças que melhorem as condições de vida, o senso de justiça e a nossa autonomia no diálogo com as pessoas de outros lugares, próximos ou distantes.
O valor dos nossos antepassados, simbolizado no nome de Independência, é real e cheio de consistência. Temos nele uma liga com o que nos construiu, um portal aberto diante de nós para trilharmos de trás para frente vestígios de respostas que podem servir para orientar indagações surgidas nos difíceis tempos atuais. Por isso, a palavra pronunciada quando nos referimos ao nome do nosso lugar merece estar carregada de sentido.
O certo é que, de tanto sermos levados a olhar o mundo com filtros da derrota, da inferioridade e da impotência, já não acreditamos muito em nós, na nossa história e do que somos capazes. Assim, a nossa existência tende a ser traída por uma falsa relação de semelhanças entre colonizados e dependentes, habitantes do semiárido e subdesenvolvidos, isolamento geopolítico e falta de perspectivas. Essas armadilhas da percepção nos tiram a essência poética e nômade da arte de superação das adversidades.
Entender a força presente no nome de uma cidade não nos torna mágicos nem capazes de domar a própria sorte. No entanto, saber da razão da escolha da palavra Independência para denominar o lugar do qual nossas vidas fazem parte pode trazer mais amor por nossa terra, mais respeito por nossa gente e mais dignidade para nós. É como sentir a respiração, o pulsar do coração e o tônus muscular da nossa alma guerreira, acostumada a contemplar a linha do horizonte, onde a terra encosta no céu, como a fronteira do Ceará.
Quem honra a imaginação transforma problemas em possibilidades e inventa saídas onde não parece haver. Gestos e acontecimentos se interligam na vontade de liberdade, em sinais profundos que revelam o quanto grandes mudanças podem ser conseguidas com atos e fatos pontuais, protagonizados por heróis anônimos, o que nos convida a pensar sobre o que é ser pequeno ou grande, fraco ou forte, sonhador ou realista.