Tudo na vida tem o seu próprio tempo de acontecer. Quando se comprime o viver em uma mesma duração acelerada de obrigações, alguma coisa há de se romper. A cultura das redes sociais digitais trouxe para os instantes de nossas vidas a noção de que nada é mais necessário do que um post; verdade virtual que rompe princípios de humanidade, civilidade e integração ambiental.
Nunca tive dúvida se deveria ou não usar essas mídias, mesmo elas tendo chegado com promessas de serem sociais e, após dominarem as comunicações na web, passado a assumir que são meios comerciais da nova ordem econômica mundial. Procuro, então, atuar nesses espaços virtuais simplesmente desobedecendo os seus imperativos de superficialidade e de desabono da contemplação.
Como sempre me percebi em um movimento de vida artesanal, minha crença está vinculada à ideia de que para fazer muitas coisas, e coisas duradouras, é importante que se faça devagar. No artigo “A vida é lenta” (V&A, 23/01/2018), procurei separar alguns fatores que distinguem o acelerado do lento, exemplificando que diante de um perigo ampliamos a velocidade do pensamento na tentativa de escapar, mas ao brincar a criança expande o tempo.
De uma forma natural, nos meus perfis não adiro à supressão da experiência fomentada pelas corporações do mercado de irreflexões. O que move as minhas redes é o sentido de comunidade, na qual conto com a companhia de pessoas que interagem com a minha produção autoral e comigo, e o caráter de repositório, em sua acepção mesma definida nos dicionários como lugar onde se guarda algo que pode ter serventia.
Aplico nas plataformas de música digital o mesmo conceito de ir devagar. Estruturei o cancioneiro autoral das minhas produções, normalmente como trilhas sonoras do trabalho literário que tenho a satisfação de jogar para o mundo, e vou arquivando lá, de modo que elas ficam soltas como o vento, podendo ser acessadas por onde circulam meus livros, ou mesmo em circunstâncias avulsas.
Ao atuar nas redes sociais procuro evitar transferir a definição de viver para as telas, por ter a consciência de que o tempo real não é o da instantaneidade, mas o da permanência. A vontade de espalhar conteúdos deve se dar da pessoa para a máquina, pois o contrário não passa de assédio de programações destinadas à padronização de alavancas de desejos em mentes ansiosas por apelos brilhantes.
Divirto-me com a pouca atenção que dou às imposições desses negócios digitais, quando faço postagens totalmente avessas ao que elas preconizam. Acabo de disponibilizar nas minhas redes sociais a exposição digital com obras de artistas que fizeram as ilustrações dos meus livros infantis e juvenis nos últimos 25 anos; mostra que integrou o evento de lançamento do meu livro “Brincadeira de Cantar”, dia 13 passado, na Estação das Artes.
O vídeo de 9 minutos e 37 segundos não tem som, e reserva um tempo apropriado à apreciação de cada tela. Em silêncio, as imagens passam lentamente, como se a parede da sala de exposição se movimentasse diante de quem está parado olhando para a tela. Esse tipo de experiência vai de encontro à lógica açodada das redes sociais e desafia as pessoas visitantes a serem lentas. Por que não?
Fonte:
Jornal O POVO