Vai ter festa na Casa dos Licores, em Viçosa do Ceará. A caçula dos Mapurunga de Miranda, Heloísa Helena, 52 anos, vai lançar um livro de poesia naquela morada onde todos foram estimulados a tratar bem as pessoas e a fazer alguma coisa para assegurar o sustento da família: “onde aprendemos a gostar, a brincar, a ajudar, a dividir, a conversar, a brigar, a perdoar” (…) e a viver ‘em cardumes’”, diz a autora.

O casal Terezinha e Alfredo Miranda já fez a viagem de volta, mas comparecerá ao lançamento das Trovas e Poemas Iluminados da Heloísa, na próxima sexta-feira, 3/11, às 17 horas, na Casa dos Licores, por meio de tudo o que criou naquele recanto fabular, especialmente no que diz respeito a uma vida que conjuga trabalho, arte e amor. Os fogões e as flores evocam a presença da mãe da poeta, assim como os licores e o pife guardam a figura do seu pai.

Os poemas de Heloísa Helena têm natureza existencial. Revelam alguém caminhando por um jardim de palavras artesanais, cheias de frestas de luz em claro e escuro poético. Seus versos respiram os ares vitais da família: a cozinha, os fogões, a bodega e os licores, em momentos de ipês floridos, noites de São João, bandeirolas, saudade, amizade, tempo, morte e gratidão de viver ao som eterno de um pife encantado no alto da Serra Grande.

Na apresentação, a irmã Tereza Cristina é eloquente e amorosa: “Trabalho magnífico que mexe com o coração”. Confessa seu orgulho pela “sublime missão” de falar desses “versos leves e livres” e dos “sentimentos diversos, na sua legítima e pura inspiração”. Para a autora, suas rimas “São trovas de esperança, / poemas para iluminar, / o pensamento perdido / de quem busca se encontrar”.

Heloísa escreve poemas desde a adolescência, quando saiu de casa para rodar o Brasil ao lado do marido fazendo bijuterias, bolsas, tapeçaria e peças artesanais em epóxi, cerâmica, cobre e latão, até se estabelecer entre Viçosa e Parnaíba. Em suas andanças nunca deixou de procurar o perfume das flores que marcaram a sua infância: “As busco por todos os cantos / Boninas da minha vida! / Nas estradas… nas veredas”. A vida para Heloísa é aromática e, nela, a poeta sempre viu uma espera ao lado de cada ausência.

O livro é cheio de fotografias, reproduções de imagens de gravuras, quadros comemorativos, homenagens, declarações de amor, árvore genealógica, cenas de festas, enfim, detalhes da ornamentação de um ambiente que tem poesia espalhada pelas paredes, cheiro de café coado e movimento constante de amigos e clientes que circulam na Casa dos Licores em busca de doces, geleias, tijolinho de mamão e de jaca, casadinhos, bom bocado, pão de ló, rosca, bulim, queijadinha e suspiro.

As ilustrações (ou os enfeites – como diria o artista plástico carnavalesco Descartes Gadelha) das páginas foram feitas também pela autora, inclusive a pintura em acrílica da capa, espirituosamente intitulada Pé de Pife. É um livro de memórias e de boas recordações, embora, segundo Heloísa, “Lembrar do que foi bom / parece uma coisa ruim”. Mais do que pela forma e expressividade de suas palavras, as Trovas e poemas iluminados da Heloísa tornam-se preciosas pelo que revelam da essência da poeta e sua vida feita à mão.