O jogo contra o Cuiabá estava tenso e o resultado parecia escapar dos pés do Ceará Sporting Club na 32ª de 38 rodadas do campeonato brasileiro de futebol, o Brasileirão. A equipe cearense precisava ganhar para manter um mínimo de distanciamento da zona de rebaixamento, mas o time mato-grossense também corria atrás da vitória, na tentativa de sair do bloco dos quatro a serem despachados para a segunda divisão.
A etapa complementar da partida começou favorável ao Ceará, com a expulsão de um jogador do Cuiabá e a intensificação da pressão do time da casa. Quando tudo levava a crer que o Vozão abriria o placar a qualquer momento, quem fez o primeiro gol foi o Dourado. Começou, então, o tumulto no setor de uma ‘torcida organizada’. Mesmo assim, os atletas alvinegros mantiveram o ritmo e empataram a partida.
Faltavam sete minutos dos acréscimos, talvez oito, pois normalmente os árbitros acrescentam um minuto pelo tempo de checagem do gol. A expectativa era de virada. Contudo, a pancadaria já estava deflagrada e a partida foi corretamente encerrada por falta de segurança. A briga entre os falsos torcedores continuou com o arremesso de pedaços de assentos e correria.
As arquibancadas pareciam um formigueiro com tanta gente se deslocando para todos os lados. Policiais dispararam balas de borracha dispersando os rixosos, enquanto mães, pais, crianças e demais torcedoras e torcedores tiveram que fugir para dentro do campo. Simultaneamente, o gramado foi invadido por parte dos confuseiros e os jogadores evadiram-se para o vestiário.
Mais de 40 mil pessoas passaram por esse sufoco naquela tarde. Eu, entre elas. A grande maioria da torcida presente estava ali, vestida com as cores preta e branca, para somar com atletas e comissão técnica na busca de um resultado positivo para o nosso time do coração. Costumo dizer que, antes de tudo, torcer é um ato de admiração, um gesto de doação ao time preferido.
Óbvio que eventos futebolísticos têm seu aspecto catártico e projetivo. Quando os jogadores atendem às expectativas dos torcedores, são o máximo; quando as frustram, são xingados. Essa oscilação de afetos é natural na dinâmica de um público movido pelos impulsos instigadores do querer mais, como no caso dessa partida.
O vandalismo de domingo no Castelão não pode ser justificado pelo grito expiatório de que a torcida foi provocada por jogadores do time adversário, nem pelas críticas feitas à inércia da diretoria do clube. O campeonato está chegando ao fim e a torcida precisa estimular que o time todo tenha a entrega de atletas como o Nino Paraíba, e que deixe de lado comportamentos tóxicos como os demonstrados pelo Vina.
A situação do Ceará é difícil, mas ainda é perfeitamente contornável, haja vista que, dos seis jogos que faltam, três serão com clubes que estão na zona de rebaixamento, inclusive com os dois últimos colocados. Depois de cinco anos consecutivos na Série A, não faz sentido o Ceará eventualmente cair para a segunda divisão, empurrado por exasperações decorrentes de problemas que podem ser tratados depois da última partida.
O Vozão tem um bom elenco, um técnico dando o melhor de si e uma grande torcida apaixonada que não se confunde com os incitadores desse tipo de violência no estádio. A permanência do Ceará no rol dos vinte principais clubes brasileiros dependerá da consciência de que o time precisa se sair bem nos próximos jogos e, para isso, todas e todos que têm paixão pelo Mais Querido devem assumir os percalços e encantos que isso significa.