O Pacto de Cooperação, movimento desenvolvido no Ceará na década de 1990, entre governo, iniciativa privada, academia e organizações sociais, segue Brasil adentro inspirando ações de descoberta de soluções para situações econômicas complexas por meio da convergência entre diferentes. Os efeitos práticos de três dessas experiências acabam de ser publicados no livro “Pactos & Impactos – Cooperação para o Desenvolvimento”, de Cícero Sousa.
Os relatos e reflexões de Cícero revelam o caráter adaptativo do conceito de interesse mútuo orientador das alianças cooperativas favoráveis ao bem comum. Os casos abordados por ele tanto expõem o valor do respeito às peculiaridades de cada lugar quanto atestam conceitos e técnicas habilmente aplicados pelo autor no processo de criação e de condução dos pactos do Cariri cearense, do Cariri paraibano e de Niquelândia, em Goiás.
O autor discorre sobre como ações de catálise resultaram em conquistas nas áreas do turismo, da educação e da comunicação no fortalecimento da Região Metropolitana do Cariri (CE). São curiosos também os relatos a respeito da estruturação e implementação do Pacto Novo Cariri (PB), que se tornou uma referência de como uma sociedade inverte a sua percepção, deixando de lado estereótipos da seca para transformar os atributos da estiagem em negócios.
Em suas andanças pelo interior paraibano, Cícero Pereira descobriu a chave que abriria as portas do Cariri paraibano em um poema do repentista Severino Lourenço da Silva Pinto, fixado em uma praça da cidade de Monteiro: “Poeta é aquele que tira de onde não tem e bota onde não cabe”. Estava decidido que a poesia teria lugar especial no desenvolvimento de alternativas econômicas para aquele território.
Ele ilustra seus escritos com alguns causos e lendas que refletem os males das generalizações na cabeça das pessoas, e como essas cicatrizes simbólicas foram curadas com trabalho, consciência de si e orgulho de ser do sertão. O que em Cabaceiras era objeto de chacota, virou usina de leite de cabra, curtume coletivo, orquestra ‘sanfônica’ e festa de ‘Bumba-meu-bode’, sob o conceito de ecodesenvolvimento e aproveitamento das noites de luar e de céu estrelado para foco na atração de turistas escandinavos.
No caso da Niquelândia, o autor detalha as movimentações de uma cidade que se uniu em grupos cooperativos para reinventar sua sina, partindo dos efeitos negativos provocados por fatores provenientes do mercado internacional de commodities de minérios. A dominância de uma mineradora era a causa do entorpecimento de outros setores econômicos que foram despertados com a trágica avalanche de desemprego decorrente do fechamento da empresa. Mas foi da luta pela sobrevivência que surgiu uma estratégia de aproveitamento vocacional das pessoas e da natureza.
O relato oferece exemplos de como pessoas, antes dispersas ou adversárias, se uniram para valorizar as inteligências e as vocações locais, num esforço de descoberta da força transformadora de uma nova mentalidade capaz de organizar novas agendas pelo desempenho regional integrado. Ao enxergar o outro, o participante do pacto percebe a grandeza da interdependência, das regras simples de convivência e das agregações que o viver e o fazer juntos oportuniza à qualidade de vida.