Independência, o nome da cidade onde eu nasci, tem uma origem muito especial e de grande valor histórico, porém a falta de informações organizadas sobre os acontecimentos que motivaram essa toponímia acaba ocultando a sua importância. Pensei em dar uma contribuição à minha terra, escrevendo para crianças e jovens um pouco do que ocorreu no século XIX com nossos antepassados, heróis anônimos das batalhas que, em 1823, asseguraram a unidade brasileira, momento em que o Brasil foi definitivamente separado de Portugal.
A intenção do rei dom João VI era a de assegurar que o norte do país – Piauí, Maranhão e Pará (que incluía toda a Amazônia) – continuasse colônia portuguesa logo que seu filho, o príncipe regente dom Pedro, declarasse a Independência. Montou um aparato militar de grande porte, sediado em Oeiras, então capital da Província do Piauí, para barrar qualquer tentativa de avanço das forças que, depois do Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, seguiram lutando pela unidade do Brasil.
Essa é uma história muito ampla e entranhada, por isso resolvi fazer um recorte de espacialidade e tempo, e sair em expedição pelos lugares que pudessem me levar à produção de uma narrativa de reconhecimento do nome do atual município de Independência, que, antes de integrar a geografia política do Ceará (1880), era território piauiense. Em companhia do amigo Augusto Rocha, de Oeiras, e do meu filho Lucas Paiva, iniciamos uma intensa jornada de carro, saindo de Fortaleza na manhã do dia 16 e retornando na noite do dia 20 de fevereiro (2020), com gratificante pesquisa em fontes orais e bibliográficas.
Chamei essa viagem de Expedição Alecrim, numa homenagem ao comandante cearense João da Costa Alecrim, vitorioso na última batalha contra o exército português em terras brasileiras, ocorrida no Morro das Tabocas (1823), na então Villa de Cachias das Aldeias Altas (Maranhão), logradouro que passou a ser popularmente chamado de Morro do Alecrim, e que inspirou Gonçalves Dias (nascido nas proximidades e no mesmo ano daquele combate decisivo) a escrever o poema O Morro do Alecrim (Primeiros Cantos, Rio de Janeiro: Casa Laemmert, 1846, pp. 24-29).
O que mais me impressionou nessa viagem foi a satisfação e o empenho das pessoas em facilitar as nossas buscas, além de um admirável interesse revelado pela história e pela memória dos seus lugares. Em Caxias (MA), contamos com o acolhimento incondicional das professoras Mercilene Torres (Memorial da Balaiada), Francigelda Ribeiro (Secretaria de Educação), Joseane Maia e Marinalva Aguiar, do poeta Wybson Carvalho e do magistrado-escritor Arthur Almada (Instituto Histórico e Geográfico de Caxias).
Em Teresina foi fundamental o apoio de Frederico Mendes (filho da historiadora Maria Amélia Mendes de Oliveira), Erika, Jorge e das equipes da livraria Entrelivros e da Biblioteca Cromwell de Carvalho. Na cidade de Campo Maior recebemos o suporte de Antônio Miranda (Memorial da Batalha do Jenipapo), e, em Parnaíba, fomos gentilmente recebidos pela Ioná Gomes (Citi Hotel), pelo romancista Pádua Marques e pelos pesquisadores Reinaldo Pires e Humberto Alencar, que nos abriram as portas da biblioteca da Academia Parnaibana de Letras.
Com um farto material em mãos e com a vontade aumentada de escrever a história do nome da minha terra natal, em seu contexto específico, partirei para a travessia solitária da literatura pelas fronteiras da micro-história. O destino dessa aventura, como já explicitei, é chegar aos meus conterrâneos e a todas as pessoas interessadas em história compartilhando o que aprendi com os que vieram antes de nós, sua bravura, determinação e coragem movidas por desejos de viver em um país livre de devassas coloniais; missão ainda extremamente necessária.