Feliz Festa do Saci!!!
Artigo publicado no Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág.4
Quarta-feira, 26 de outubro de 2016 – Fortaleza, Ceará, Brasil
FAC-SÍMILE
Já dá para sentir os pulos e assobios da meninada na Festa do Saci que se aproxima. Os redemoinhos começam a se formar rumo ao centro de Fortaleza, onde fica o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). É lá que a diversão vai acontecer no próximo sábado, dia 29, das 14 às 17 horas. A sacizada é uma festa de movimentos, cores e sons, aberta à fantasia e à imaginação.
A essência ecológica e multiétnica do Saci Pererê pede uma atmosfera alegórica para essa brincadeira que, mais do que um acontecimento do mundo infantil, é um reforço de brasilidade na dinâmica local e global das culturas. Como evento de extensão fantasiosa e imaginativa, a Festa do Saci ganha concretude no diálogo da meninada pela gramática travessa da dança, da música, da literatura, do teatro e das artes plásticas.
A cenografia de Li Mendes tem o toque das senhoras da mata, em um ambiente com folhas gigantes de papelão pintado, painel de chita e colunas revestidas de juta. A pajelança sonora, conduzida por Gustavo Portela, está cheia de intervenções musicais saltitantes. E para desafiar a paixão das crianças pela natureza, a festa do CCBNB-Fortaleza contará com a participação especial da Bruxa Catifunda, do Grupo Formosura de Teatro, com a direção bonequeira de Graça Freitas.
Quando pais, mães, educadoras, educadores, cuidadoras e cuidadores levam as crianças que amam para brincar em ambientes sacizísticos assim, estão dando a estas a possibilidade de uma incrível vivência de sociabilidade imaginária. Mais do que agitações do corpo e da mente, a Festa do Saci desperta a meninada também para compartilhamentos intuitivos e de interpretação de si mesma. É imaginação aplicada.
As crianças, como os seres imaginantes que são, amam essa festa porque percebem que nela estão protegidas na liberdade do brincar e da brincadeira. A Festa do Saci oportuniza a potência infantil de se deixar acontecer, fluir e interagir com o mais popular dos mitos brasileiros, na perspectiva dos rituais de inversão, e não do folclore.
Ao serem estimuladas a participar da festa com personagens que elas mesmas podem criar, as crianças brincam com os humores desses personagens e suas missões. Fantasiam à vontade, se alegram e até medos elas enfrentam em situações criativas. O ato de imaginar, de inventar histórias na hora, de soltar-se em redemoinhos, expande limites, fazendo com que mesmo a criança mais inibida possa se sacizar.
A figura do saci é muito impressionante; tanto que ela nem precisa estar materializada na festa para afirmar sua sustentação social e cultural. Basta um vento que passa, um vulto que se mexe, um som esquisito que ecoa para o saci anunciar sua presença, transitando pelo fluxo interior dos participantes e provocando o maior alvoroço imaginativo.
A infância, acuada diante do assédio do consumismo e da propagação da violência, precisa de válvulas de escape, a exemplo das sacizadas, para se fortalecer no campo psicológico e cultural, de modo que meninas e meninos não percam o prazer de ser criança, de se fortalecerem nas diferenças umas das outras e de construírem relações também no plano imaginário. A força simbólica do saci é um atributo de engrandecimento do ser pessoa. Feliz Festa do Saci!!!