Os motivos e expectativas que levaram os que vieram antes de nós a escolher o nome do lugar onde viviam são sinais que não devemos deixar que se apaguem nos caminhos que temos pela frente. Eles funcionam como insumos para a interpretação do que somos, em um país tão grande como o Brasil, onde muitas coisas desaparecem, enquanto outras são abafadas e escapam à nossa memória.
O nome de Independência, o município do sertão cearense dos Inhamuns, onde eu nasci, é fruto da sagacidade dos combatentes do rio Jenipapo e do cerco a Cachias (hoje Caxias) que retornaram àquele território que, em parte pertencia ao Piauí, e resolveram mudar a denominação de Pelo Sinal para a marca da vitória sobre o exército português nos seus últimos combates em solo brasileiro, no ano de 1823.
Duzentos anos depois dessa investida de piauienses, maranhenses e cearenses contra a ordem de um sistema de exploração colonial insuportável, o Espaço Cultural História Viva, entidade criada e mantida por professoras e professores de Independência desafiou os estudantes das escolas públicas e privadas do município a refletirem e se expressarem literariamente sobre o tema “A história do Brasil passa por Independência”.
Esse concurso de educação participativa, que leva o meu nome, vem sendo realizado há quinze anos consecutivos, mobilizando a juventude, suas famílias e escolas em torno de assuntos que, direta ou indiretamente, impactam suas vidas. O 15º Prêmio Literário Flávio Paiva 2023 está voltado para a formação de consciência histórica, como modo de reconhecimento de gestos fundantes e de renovação de acontecimentos.
Os trabalhos, selecionados por uma equipe de avaliadores do Instituto Federal do Ceará (IFCE) serão apresentados em momento de confraternização no dia 26 deste mês de agosto, no largo da Estação Leitura, sede do História Viva, em Independência. Com apoio do Sesc-Ceará, o evento contará com um show de voz e violão do cantor Edvaldo Santana, meu parceiro na cantata tangerina do livro “Toque de Avançar. Destino: Independência” (Armazém da Cultura), que conta a origem do nome do município de Independência.
Edvaldo Santana é um respeitado cantor e compositor da cena independente brasileira, filho da dona Judite e do seu Félix, ambos nordestinos da gema, ela pernambucana e ele piauiense, nascido em 1955 na zona leste de São Paulo, de onde vingou como artista de vasto e instigante repertório autoral, incluindo parcerias com Paulo Leminski, Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção e Tom Zé. Entre cantador rural e bluesman urbano, não dá para classificá-lo, por ser fora do comum.
A identificação de Edvaldo com a proposta de honrar nossos antepassados começa no município de Fartura do Piauí, lugar em que passou alguns dias da infância sendo cuidado pela avó índia Eva Maria dos Anjos, que virou música de memória afetiva, em Jataí, álbum inspirado numa abelha sem ferrão e de mel raro que, na sua criação, voa pelo Brasil, e que, em Independência, une-se a outras e outros polinizadores em valorização dos nossos heróis sem nome, como inspirações para o devir.