Participei do vídeo da “Ciranda de Cronistas” lançado pela plataforma O POVO+ no dia 13 passado, em seu primeiro aniversário de estímulo ao olhar interativo, imersivo e seguro no potente mundo digital. Essa iniciativa me inclinou a refletir sobre a importância da crônica jornalística nesses tempos em que os canais digitais, as ferramentas de comunicação da web, as redes sociais e os dispositivos móveis estão tomados por opiniões fugazes, relatos de repentinas comoções e esbravejo caça-cliques.
Adianto logo que cheguei à conclusão de que a crônica é cada vez mais necessária em meio ao conjunto de formatos do jornalismo disponível no trançado das conexões online. Começa que o trabalho do cronista exige um esforço extra de formulação e de recursos literários para o cumprimento periódico da relação com a leitora e o leitor que busca ativação mútua nas entrelinhas das situações rotineiras e suas extensões de espaço e tempo.
Uma das mudanças favoráveis à crônica jornalística no universo das virtualidades é que, antes, o conteúdo da página apenas impressa tendia à transitoriedade, e, no novo contexto, que combina papel e bits eletrônicos, esses escritos ganham o fôlego da permanência pela facilidade de pesquisa, seja por temas, autores ou palavras-chave. São intensidades distintas que se unem para o fortalecimento da cultura jornalística.
Ao ocupar seu espaço na dinâmica multistreaming do O POVO, a crônica vai aumentando mais e mais o seu poder de compleição diversional, crítica, contemplativa, humorística e poética, contribuindo para a formação de um mix de leituras diferenciado e atraente no seio do movimento renovado da notícia, da reportagem, da entrevista, da análise, da resenha e seus vínculos com as artes e o audiovisual.
A crônica realça a subjetividade do pensamento no jornalismo. Em contato com a leitora e com o leitor, faz um convite para que se aproximem do autor numa relação de cumplicidade, em que cada qual pode ser o que é. É certo que cada cronista tem os seus sentimentos, métodos e interesses. Particularmente não escrevo para adeptos; pessoas que só gostam de ler o que está em linha com suas convicções. Procuro escrever na véspera da publicação, para sentir simultaneamente com quem me lê a surpresa do despertar de cada crônica recém-nascida.
Preservo, assim, a liberdade autoral de transitar pelos assuntos que me impulsionam a escrever, e mantenho o respeito à dignidade da leitora e do leitor aberta e aberto a se mover por essa rota habitual de caráter expressionista urbano, rural, ambiental, histórico, fatual e futurista, pelos campos interpretativos da infância e da cidadania orgânica. Normalmente me incluo no discurso, dando o meu testemunho para que o meu pensamento seja mais facilmente observável.
Tratar o acontecimento, os envolvidos e o contexto pelas nuanças multicoloridas de suas expressões, para mim, é bem mais magnético do que o detalhamento dos contornos. Escrevo pensando em poder soltar cada palavra do papel e dos armazenamentos digitais para onde elas seguem. Para isso, acredito que a natureza discursiva, a construção frasal e a intenção do texto precisam estar aptas a sincronizar vivências, impressões e sentimentos que escapem da ordem do dia de um mundo que não para aos nossos pés. Tudo porque na crônica jornalística o protagonista é a própria vida e seus vislumbres na trama social.