INFÂNCIA – Minhas brincadeiras favoritas
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº 153 (Editora Riso), p. 41
Edição de dezembro de 2014 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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FAC-SÍMILE

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Em dias de chuva eu gostava de jogar o corpo nas poças d’água da calçada do mercado, deslizando com os braços abertos; gostava também de tomar banho nas bocas de jacaré, de fazer barragem nas coxias e brincar de barquinho de papel. 

Tomar banho de açude era outra brincadeira que eu amava. Nadava por nadar, mergulhava com os olhos abertos em busca de objetos submersos e lutava de cangapé com os meus amigos. 

Muitas vezes íamos com a turma toda brincar de herói e bandido pelos matos. Fazíamos acampamentos, tocaias e lutávamos com espadas de carnaúba que nós mesmos produzíamos. Para podermos passar várias horas do dia nessa brincadeira, a gente fazia farofa de semente de favela e comia.

Do fruto do faveleiro fazíamos ainda carrapetas que giravam em haste de espinho de xique-xique.

No quintal da minha casa eu tinha uma casa na árvore, que fiz com a base de um carrinho de mão, tábuas e revestimento de surrão. Era bem alta e para chegar lá eu subia por uma escada bem esquisita que meu pai guardara de um velho cacimbão. A entrada era pelo piso da casa, uma passagem secreta.

Na sala da nossa casa, meus amigos e eu brincávamos muito com castanha de caju. Era uma brincadeira parecida com a daqueles bonecos de plástico gogo’s. Quem tinha a castanha maior, que chamávamos de pitelão, a colocava encostada no canto da parede e os demais tentavam acertá-la e tomá-la para si. Não conseguindo, as castanhas jogadas eram capturadas pelo dono do pitelão. Nesse jogo, valia também tentar acertar as castanhas dos outros com um peteleco, o que era uma maneira de conquistá-las. No final, ganhava quem tinha o maior número de castanhas.

As brincadeiras de fazenda eram muito diversificadas. Brincávamos de criar gado de osso, de fazer estradas com cancelas e mata-burro feitos de cravo de uma velha estrada de ferro desativada, de capturar calango em armadilhas de lata de leite colocadas em suas trilhas, e de criar calango vivo em cercados cavados no chão e revestidos de lata de querosene para eles não fugirem.

Fazer tijolo de barro em caixa de palito de fósforo era outra brincadeira divertida. Depois de secos, os tijolinhos eram queimados, carregados nos carrinhos que fazíamos com lata e madeira e, com eles, construíamos casas, armazéns e garagens.

Para brincar em calçadas, estradas e caminhos, tínhamos muitos brinquedos. Um deles era feito com talões de pneu, o aro de aço revestido de borracha, que é a parte do pneu que encosta na roda do carro. Empurrávamos esse aro com um arame de ponta dobrada. Nas calçadas era comum a brincadeira de lambreta de rolimã, um tipo de patinete de madeira, com freio de pneu no rolimã traseiro.

Eu adorava fazer carrinho de carretel de linha com liga de amarrar dinheiro e sabão de barra. A minha mãe costurava e me dava os carretéis utilizados e era com eles que eu fazia incríveis carrinhos que andavam sozinhos.

Como essas, muitas outras brincadeiras e brinquedos fizeram parte da minha infância, entre elas: rolo compressor com lata cheia de areia, puxada por barbante; telefone de cordão e caixa de fósforo; brincadeira de pular corda com cabo de salsa; balanço de corda no pé de juazeiro do quintal ou sobre o rio, experiências com cupim e com formiga, jogo de bila, de pedra, passa-anel, triângulo no barro, pião, arraia, estátua, macaca (amarelinha), gangorra, futebol, grupo musical e Língua do Pê.