Acreditar é o verbo que dá sustentação ao comportamento humano transformador de vidas particulares e coletivas. Os interesses, quando movidos por crenças, são chamados de ideais. Na vida em sociedade, com seus altos e baixos culturais, econômicos e políticos, faz-se necessária a permanente atenção para que não se perca o condão de acreditar.
É acreditando que um povo exerce de fato a sua cidadania. E esse exercício está associado ao grau de engajamento das pessoas em ações produtoras de crenças. Em Independência, o município onde nasci, no sertão dos Inhamuns, há uma dessas iniciativas. Trata-se de um prêmio literário que leva o meu nome e que há catorze anos consecutivos mobiliza a juventude a pensar, elaborar e a se manifestar acerca do meio em que vivem.
Idealizado pela História Viva, uma organização local de professoras e professores, em 2022 esse prêmio teve 749 estudantes inscritos, de 13 a 17 anos, inspirados pelo tema “No meu sertão é assim”. Trabalho incansável do professor Expedito Martins, das professoras Irandir Bezerra e Nice Peres, bem como de todas as famílias e escolas engajadas nessa realização.
Os textos são avaliados por um grupo de educadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) formado por Maria Efigênia Alves Moreira (Jaguaribe), Eugênia Tavares Martins (Fortaleza), José Enildo Elias Bezerra (Ubajara) e Lourival Soares de Aquino Filho (Baturité), e conta ainda com o apoio do Núcleo Audiovisual Jaguaribe (Naja), coordenado pelo professor e fotógrafo Marcos Vieira.
O evento de celebração das premiações será no dia 13/08/2022, no largo da Estação Leitura, onde fica a antiga estação de trem do batalhão, quando será concedido também o Prêmio Saci de Personalidade do Ano a João Roginaldo Feitosa de Melo, por seu espírito altruísta, revelado em um consistente trabalho desenvolvido com jovens e idosos nas comunidades da sede e da zona rural.
Neste ano, o evento contará com a participação especial do cantor, compositor e produtor cultural Calé Alencar, nome de referência no cenário artístico cearense, que em seus projetos combina culturas populares urbanas e tradicionais. Calé entoará o lamento “Na Barragem do Rio Cupim”, parceria que fizemos movidos pelo impacto da notícia do afogamento (25/03/2022) de cinco meninas e meninos no açude de Independência.
Diz assim a nossa canção dolorida: “Dois irmãos / João Miguel e Josiel / Três irmãs / Vitória, Nayara e Silvana // Crianças e jovens / De Independência / O lugar onde eu nasci // Foram tomar banho / Nas águas do açude / Onde eu também me banhei // Presas a uma rede / De pesca / Fizeram a viagem / De volta // Só uma não partiu / Com o afogamento / No dia feriado / Dia de céu nublado / No Sertão dos Inhamuns // Tibungo, tibungo / Tibungo, tibungo, tibungo!!!”
Muitas coisas acontecem nesse encontro de juventude, crença e cidadania, onde inferências interpretativas da realidade misturam-se em poesia e prosa. O papel desse prêmio é produzir crenças por meio do estimulo a observações, reflexões, formação e expressão de ideias, de modo a evidenciar atitudes e a abrir perspectivas dialógicas capazes de ampliar a vontade de participação como uma prática de valor na vida em sociedade.
Fonte:
RIVISTA Nº 245