Laura Finocchiaro – Música orgânica brasileira
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº 144 (Editora Riso), p. 20
Edição de março de 2014 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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A cantora gaúcho-paulistana Laura Finocchiaro, 52, projetou-se no mundo da música alternativa nos anos da década de 1980, pela mistura que fazia de eletrônica com MPB nas pistas de discoteca da Madame Satã, famosa casa noturna de São Paulo que agregava pessoas das mais variadas inclinações artísticas, ideológicas, étnicas e sexuais.

Em trinta anos de carreira como cantora, compositora e guitarrista, ela trabalhou com trilhas para programas de televisão, cinema, teatro, desfiles de moda (inclusive do Lino Villaventura) e mídias de internet, mas não deixou de lado a produção de discos autorais, abrangendo desde o rock e o samba até gravações de mantras de roda e, claro, música eletrônica.

Nesse percurso fez composições com outros criadores irrequietos, a exemplo dos escritores Caio Fernando Abreu e Cassandra Rios, e dos músicos Tom Zé e Cazuza. Nos anos 1990 pedi a ela que participasse da faixa título do CD Síntese, da cantora Marta Aurélia, que é uma parceria minha com Geo Benjamim e Rogério Soares, e ela, generosamente, cantou o Mantra da Prosperidade.

Laura está lançando o seu sexto disco, intitulado Copy-Paste (copiar-colar), gravado e mixado em 2013, no Studio Musika, de Casa Amarela, no Recife, com masterização de Carlinhos Freitas, do Classic, em São Paulo. Augusto Silva (bateria e percussão), Bráulio Araújo (baixo), Renatinho (viola e violão), Júlio César Mendes (sanfona) e Lucas Dos Prazeres (pandeiro, ganzá e triângulo) foram os músicos pernambucanos que a acompanharam nessa aventura.

A artista procurou o Nordeste porque sentiu necessidade de curtir o cheiro da cultura do Brasil original e chamou de música orgânica as sonoridades, os ritmos e a poesia nordestinos, das quais lançou mão para faze um CD cheio de baião, com tempero de ciranda, coco, frevo e arrasta-pé. São oito faixas, das quais três são em parceria: Copy-Paste, com Maria Cleidejane Esperidião, Cirandar, parceria com Leca Machado e João Luiz Vieira, e Olinda, composta ao lado do músico Renato Bandeira e do poeta João Luiz Vieira.

Para viabilizar a conexão da sua pegada pop paulistana com a pegada popular nordestina, contou com o apoio artístico do saxofonista e maestro Inaldo Spok e com arranjos e direção musical do guitarrista Renatinho Bandeira, ambos integrantes da Spokfrevo Orquestra. Spok participa também como instrumentistas, em Pandeiro de Prata, homenagem de Laura à lua alagoana, e no frevo de rua Olinda.

A ideia de Laura Finocchiaro de conceituar como música orgânica essa experiência desenvolvida no solo fértil da estética musical nordestina dá um sentido holístico ao que chamo de Música Plural Brasileira. São propostas como esta que promovem a nossa integração cultural, fortalecendo a adubação verde da criatividade e o controle das pragas musicais cinicamente modificadas. Sem contar que Laura surpreende por cantar como uma cantora nordestina.