Sentir de perto e conjuntamente o que é a música para crianças na atualidade é a proposição do 16º Encontro da Canção Infantil Latino-americana e Caribenha, que teve início ontem e se estenderá até o dia 19, em Canelones, no Uruguai. O Mocilyc é um movimento de permanente busca do entendimento das contribuições de autores, intérpretes e pesquisadores empenhados na produção musical voltada para meninas e meninos do nosso continente.
Com um amplo mapeamento de obras, espetáculos, shows, oficinas e suas transversalidades com linguagens como dança, teatro, cinema, literatura, poesia e artes visuais, o festival catalisa coletivamente manifestações que representam o estado atual da canção infantil, possibilitando trocas de experiências e celebrando o percurso traçado em favor da produção alternativa e pelo fortalecimento do acesso da criança à cultura como um direito.
O espetáculo “El balanceo de Torito”, baseado na combinação de literatura e música constante da edição em espanhol do meu novo livro-álbum infantil “¡Qué noche, Torito!” (Telos Editora), interpretado pela cantora uruguaia Luana Baptista, foi selecionado para duas apresentações no Mocilyc 2023, ao lado de propostas artísticas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Porto Rico e Uruguai.
Durante uma semana serão apresentados trabalhos artísticos e acadêmicos com entrelaçamentos estéticos e culturais alinhados com o eixo conceitual “O que é a canção para as infâncias hoje?”. As apresentações do Torito serão feitas no dia 16 (quinta-feira), às 10h00 e 14h15 no palco do Espaço Cultural Virginia Bridis”, em Canelones. Luana Baptista contará com uma banda especial formada pelos músicos uruguaios Santiago Bolognini e Santiago Massa (violões), Xime Bouzo (percussão) e Gabriel Ravera (baixo).
Perante um cenário de sedução homogeneizante, persuasão das grandes mídias e assédio da publicidade e da propaganda dirigida a meninas e meninos, ações de cidadania como essa do Mocilyc tornam-se mais e mais necessárias na construção de possibilidades de escolhas para mães, pais, educadoras e educadores poderem oferecer produtos musicais que respeitem a criança, em tempos de grande confusão entre valor artístico e valor de mercado.
Tudo isso requer vivências infantis com canções pensadas com a criança e para ela, criações e interpretações sinceras, como meio de fruição, partilha, relações estéticas e potências culturais cotidianas; uma música infantil à vontade em sua forma de expressão, sua língua, seu ritmo, seu estilo e elemento lúdico, boa como contato afetivo, campo de criatividade, exercício de subjetividades e articulação do corpo para escutas sensíveis e interferentes.
A aproximação música e criança passa pelas dimensões reflexiva e imaginária, por outros mundos. Neste aspecto, a máxima que orienta o Torito é que antes de tudo vêm os pensamentos e a imaginação. Isso dá elasticidade à mente para a apropriação e a recriação da realidade, o enriquecimento do si e o desenvolvimento da percepção das tantas e tantas interações existenciais e direções que pode ter a vida social.
Os saberes e conhecimentos sonoros, a arte dos sons tirados dos instrumentos, das palavras entoadas, de todos os sons e todos os sonhos, suas singularidades, seus vínculos plurais, jogos intuitivos, silêncios líricos e dramáticos, incidentes pulsionais e sua ludicidade contemplativa e vibrante são formas intensas e de significados profundos associados ao contexto social e cultural de onde brota a canção infantil. No Mocilyc, essa prática cultural de natureza artística tem um precioso território comum, a América Latina e o Caribe.
Fonte: Jornal O POVO